Para perder o sono - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Para perder o sono - Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY encerrou a sexta-feira em queda de 44 pontos (quase 10 dólares por tonelada) em relação à semana anterior. O contrato futuro com vencimento julho/22 fechou cotado a 18.84 centavos de dólar por libra-peso, refletindo as incertezas que pairam sobre os eventuais efeitos de uma mudança no ICMS sobre combustíveis (leia mais a seguir). Aliás, NY se comportou de forma bastante ciclotímica durante a semana.  

A safra 22/23 do Centro-Sul está se comportando como prevíramos. Oferta mundial do produto sem sobressaltos. Brasil vendido e fixado em mais de 20 milhões de toneladas, mas indefinido se aumenta a produção de açúcar em virtude das alterações de política de preços. A Índia despejando mais de 10 milhões de toneladas de açúcar e com apetite de exportar mais e, como não poderia ser diferente, inflação e juros desestimulando os consumidores industriais a recomporem seus estoques. Assim, a pressão sobre os meses mais curtos cresce e o carrego hoje já aponta um custo de 5% ao ano.

Os fundos não-indexados mantendo ainda uma posição comprada no mercado futuro de açúcar em NY – cujo preço subiu 0% este ano – é inusitado. Até quando os fundos especulativos irão manter esses 113,000 lotes (posição de terça-feira última) é uma boa pergunta. Mas, o ponto principal é quem vai dar liquidez (comprando) quando eles resolverem liquidar suas posições (vendendo)? Aí reside o risco efetivo que pode ser potencializado com uma piora do clima político no Brasil pré-eleições e derrubar o real que nesta sexta-feira chegou a negociar a R$ 5,0127 e que pode – a depender do tamanho da crise – visitar os R$ 5,6000 até setembro. Pensa num cenário confuso….

Independentemente do desenlace dessa inacreditável trapalhada promovida pelo governo federal acerca das mudanças na tributação dos combustíveis, o nível de incerteza entre os tomadores de decisão dentro das usinas atinge seu pico. Usinas capitalizadas, em vista das ambiguidades que estão no horizonte, em especial considerando que se o tal projeto passar, expira no último dia do ano, às portas de uma nova administração, optam por deixar o máximo de etanol no tanque e aguardar os acontecimentos do novo ano. Vale o risco.

Primeiramente, tudo indica que o tiro no pé a ser dado pelo governo federal em sua busca obsessiva pela reeleição tem ampla possibilidade de causar desabastecimento de combustíveis, em especial o diesel que – segundo rumores no mercado – tem hoje um estoque para pouco mais de uma semana. Esse é um ponto de perigo máximo em toda a cadeia do agronegócio.

O governo tenta infrutiferamente tapar o sol com a peneira. É fato incontestável que – apenas no acumulado deste ano – a gasolina subiu no mercado internacional 89%, o diesel 88%, o petróleo tipo WTI 60% e o tipo Brent (que serve de referência para a Petrobras) 57%. A situação no Brasil seria ainda pior não fosse o a moeda brasileira ter se valorizado pouco mais de 10% em relação ao dólar, no acumulado de 2022.

Aos preços de sexta-feira, a diferença entre o preço da Petrobras e o mercado internacional já estava acima de R$ 1,2600 por litro na refinaria. Quando esse represamento estourar em algum momento, todo o esforço dedicado pelo governo terá sido em vão.

O que o mercado espera é que o Projeto de Lei limitando o ICMS em 17 ou 18% dependendo do estado, seja aprovado. Além desse, existe uma Proposta de Emenda à Constituição que cria um diferencial tributário entre o combustível fóssil e o renovável, que estabelece um diferencial competitivo por 20 anos, trazendo segurança ao setor sucroalcooleiro. No entanto, ainda existem questões a serem discutidas acerca da desoneração do hidratado e do diesel e do tratamento fiscal diferente para cada produto quando se trata de estado produtor ou estado consumidor. Mas, tudo isso é passível da judicialização dos estados que se sentirem prejudicados.

Com tantas incógnitas a serem decifradas o momento exige cautela por parte dos hedgers (usinas, indústrias alimentícias, traders de açúcar e combustíveis, entre outros). Da nossa parte, vale pensar no impensável, ou seja, numa ruptura de mercado que cause uma queda acentuada nos preços (fatores exógenos – lockdown chinês, deterioração do quadro econômico global, por exemplo e internamente – crise política que pode elevar a cotação do dólar). Assim sendo, talvez valha a pena pensar na compra de uma put (opção de venda) de açúcar com preço de exercício ao redor de 16 centavos de dólar por libra-peso e vencimento para março/23 para dormir sossegado antes das eleições de outubro.

 

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