Parada técnica para tomar fôlego – por Arnaldo Luiz Corrêa

Parada técnica para tomar fôlego – por Arnaldo Luiz Corrêa

A decisão histórica dos eleitores britânicos pela saída do Reino Unido da União Europeia foi um acontecimento que derrubou não apenas o mercado acionário, mas também levou as commodities de roldão. Sem exceção, todas elas fecharam no vermelho e o açúcar até que se comportou de maneira exemplar. Encerrou a sexta-feira a 19.16 centavos de dólar por libra-peso (vencimento outubro/2016), uma queda de 74 pontos em relação à semana anterior, mas praticamente inalterado no dia se recuperando heroicamente após mergulhar de cabeça até 18.53 centavos de dólar por libra-peso durante o tumultuado pregão desta sexta-feira.
O petróleo e o cacau caíram 5% e foram as commodities que mais sofreram no dia. Café também se desvalorizou fortemente, com pouco mais de 4%.
A saída do Reino Unido é um episódio triste que enfraquece a Europa, escancara a intolerância que se expande em todo o continente e expõe o populismo perverso que não apenas empobrece o país, mas abre mais espaço para a atuação dos grupos nacionalistas radicais da Alemanha e da França. O populismo, nesse caso de direita representado por uma figura esdrúxula como esse tal de Nigel Farage, também contamina os países civilizados. Para piorar o cenário, só precisamos que Trump vença as eleições nos Estados Unidos e que o impeachment de Dilma não seja aprovado. Aí, só mudando de galáxia.
A queda do mercado em 169 pontos no vencimento outubro/2016 (entre a máxima de 20.22 centavos de dólar por libra-peso e a mínima na semana de 18.53 centavos de dólar por libra-peso), com a provável liquidação parcial dos fundos (de terça até sexta), fez diminuir o ritmo de compra de opções usada como proteção para o fluxo de caixa corroído devido às chamadas de margem, já que os vendidos ganham fôlego. Tanto é assim que a volatilidade das opções caiu acima de dois pontos percentuais para o vencimento outubro/2016 e 1.8 ponto percentual para o vencimento março/2017. O mercado subiu muito e rapidamente e as chamadas de margem acionaram a compra irracional de opções como cobertura. Era momento de vender opções e capturar valor-tempo.
Embora os fundamentos do açúcar sejam construtivos e deverão se consolidar ao longo desta safra, o cenário macro foi afetado enormemente pelos acontecimentos na Europa. É um momento em que devemos assistir a uma acomodação das atuais posições e/ou uma diminuição do apetite especulativo.
Tendo em vista o alargamento do spread julho/outubro e outubro/março, tudo leva a crer que o momento do físico ainda é insuficiente para segurar os níveis atuais de preços. Até as pedras sabem que grande parte desse movimento de alta foi capitaneado pelos fundos. Dessa forma, acreditamos que ainda vamos assistir a uma correção de preços antes de o mercado retomar a alta que será influenciada por números mais frescos de moagem e disponibilidade de açúcar.
Nosso modelo ainda aponta para preços acima de 22 centavos de dólar por libra-peso no último trimestre deste ano, refletidos no vencimento março/2017. O mercado em NY antecipou-se a esse quadro.
A posição em aberto do mercado também caiu pouco mais de 33.000 lotes indicando que houve uma liquidação objetivando a tomada de lucro, mas os fundos não-indexados quebraram mais um recorde e agora estão comprados em 337.000 lotes com base no fechamento da última terça-feira ao preço médio de 17.00 centavos de dólar por libra-peso no vencimento de outubro/2016, segundo estimativa da Future Analysis Consultoria (www.futureanalysis.com.br), ou seja, um lucro “básico” de US$ 1.6 bilhão.
Observou-se um aumento na posição em aberto para os vencimentos da safra 2017/2018 podendo indicar que existe uma propensão por parte das empresas (usinas) em aproveitar os excelentes valores em reais por tonelada que estão aí para ser abocanhados. Creio que o mercado vai dar uma parada técnica para recuperar o fôlego e tomar um pouco de água. O touro subiu terreno íngreme de maneira muito rápida.
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting