Perspectivas para os preços de petróleo e de etanol - Por Julio Maria M. Borges

Perspectivas para os preços de petróleo e de etanol - Por Julio Maria M. Borges

O mercado de petróleo, e consequentemente os mercados de gasolina e etanol, estão neste momento em uma situação que cria dúvidas sobre a manutenção da tendência de alta dos preços. Vejamos o porquê.

Fundamentos para preços em alta

O mundo está neste momento admitindo de maneira mais efetiva a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). O clima tem mudado contra os interesses de sobrevivência construtiva da sociedade e esta tem reagido a esta situação. Mesmo tendo consciência de que esta transição terá custo para a sociedade.

Algumas medidas já estão sendo consideradas e adotadas para este objetivo, o que tem como consequência uma redução de oferta de combustíveis fósseis.

Uma dessas medidas é aumentar os investimentos em fontes renováveis de energia e consequentemente reduzi-los em energia fóssil. Outra, é reduzir o uso da energia fóssil por decisão de Governo, o que ocorreu recentemente com o carvão na China. O governo Biden nos EUA está criando dificuldades para a expansão da indústria americana de óleo e gás.

Uma terceira alternativa é otimizar a produção de combustíveis fósseis. Isto inclui investimentos em menor volume e mais seletivos e utilizando processos de produção mais eficientes, que minimizem a emissão de GEE. Finalmente, cabe lembrar que os financiamentos para combustível fóssil devem ser reduzidos.

A consequência desta condição é uma restrição de oferta de combustíveis fósseis. Por outro lado, a produção adicional de energia de fontes renováveis pode não acontecer na condição necessária para compensar a restrição de oferta de combustíveis fósseis.

E neste caso ocorre déficit de oferta e aumento de preços de energia no curto e médio prazo. Isto está ocorrendo neste momento na Europa e China, com o consequente aumento forte do preço da energia.

Fundamentos para preços em baixa

Os preços das commodities e fretes marítimos, de maneira geral, estão relativamente altos neste momento. Este é um dos motivos da crescente inflação mundial que estamos percebendo, que para vários bancos centrais de países desenvolvidos pode ser temporária. Reforçando a condição de melhores resultados econômicos para as empresas, o valor do dólar americano está relativamente alto, o que potencializa a receita dos exportadores de commodities pelo mundo afora.

A razão desta situação é um desequilíbrio de curto prazo. A recuperação da demanda global pós choque do Covid 19 no início de 2020 vem ocorrendo numa velocidade maior que a oferta, gerando inclusive um otimismo temporário com a recuperação das economias. Esta situação vale para o curto prazo e não se sustentaria no médio prazo.

Por outro lado, os custos de produção aumentaram, mas não necessariamente com a mesma intensidade do aumento de preços.

De forma geral, o bom resultado econômico dos negócios com commodities vem estimulando o aumento da produção e a regra que conhecemos para o mercado de commodities continua valendo: o melhor remédio para combater preços altos é preços altos (que estimulam a oferta).

No caso do petróleo, um outro aspecto que justifica esperar um aumento na produção, e eventualmente acabar com a administração de oferta pela OPEP+, é a competição com fontes renováveis de energia.

As empresas e Governos que detêm as reservas de petróleo vão sustentar uma condição de preços altos de petróleo e gás para ajudar na viabilidade de fontes alternativas de energia, esperando que a demanda de petróleo e derivados se reduza? Ou vão tentar inibir com preços mais baixos e lobby a crescente oferta de combustíveis renováveis? Quanto vão valer as reservas de petróleo, gás e carvão não utilizáveis?

Eis a questão.

Conclusão

Preços e lucros altos e crescimento econômico estimulam movimentos especulativos e estimulam a oferta. Em seguida vemos preços em baixa. Neste século 21 vimos isto nas suas duas primeiras décadas. A situação atual lembra os melhores momentos de preços altos dessas duas décadas.

A nossa sugestão para a empresa que está surfando nesta onda de preços altos é de aproveitar esta situação e fazer hedge de venda de parte da produção futura. Que parte é esta? Isto depende da aversão ao risco de cada uma.

Esta recomendação pode não representar o pico de receita futura mas seguramente será uma situação onde a receita cobre todos os custos e elimina os riscos de prejuísos. É melhor ganhar menos do que ter prejuízos.

Saúde a todos.

*Julio Maria M. Borges Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento. Conselheiro de Administração.

 

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