Perto do suporte? Quem acredita? - Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar continua pressionado alimentado pela desvalorização do real em relação ao dólar e também com o petróleo acumulando quedas no mercado internacional. O aumento no preço da gasolina anunciado pela Petrobras, de apenas 3%, a partir desta sexta-feira, foi mal recebido pelo mercado acionário brasileiro que esperava um percentual mais elevado para que a estatal do petróleo pudesse começar a compensar lentamente parte do imenso prejuízo que tem tido com o subsidio aos preços. Já o mercado de açúcar em NY, reagiu positivamente chegando a valorizar até 38 pontos no vencimento março/2015. No fim, encerrou a semana a 15,69 centavos de dólar por libra-peso com variação negativa de 33 pontos em relação à semana anterior. Os demais meses variaram entre 5,50 e 10 dólares por tonelada de queda na semana.
Dizem os analistas gráficos que o mercado futuro de açúcar ainda tem mais espaço para cair. Como não é minha praia, prefiro focar naquilo que consigo explicar.
Vejamos: esta semana o dólar chegou a negociar 2.5750 no mercado à vista. Se alguém fizesse um NDF (contrato a termo com liquidação financeira) de dólar com vencimento para dez meses e aproveitasse a cotação do vencimento outubro 2015 cotado a 16.68 centavos de dólar por libra-peso, teria uma fixação entre R$ 1050-1100 por tonelada. Convenhamos que esse é um valor extremamente alto se compararmos à média dos últimos anos. A última vez que esse valor ultrapassou R$ 1.000 por tonelada foi em outubro de 2012. A média de dois anos, por exemplo, está pouco acima de R$ 870 por tonelada. A média de 2014 está em R$ 872 por tonelada. Ou seja, tivemos dois anos de mesmices.
Olhando por esse prisma, podemos inferir que a uma taxa de câmbio de 2.5600 praticada nesta sexta-feira, e usando a média de fechamento em reais do ano citada acima, o vencimento março/2015 teoricamente teria um suporte em 14.85 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, cerca de 100 pontos abaixo do que está o mercado futuro hoje. No entanto, se considerarmos que os negócios na exportação estão sendo feitos com desconto de 100 pontos para embarque novembro, o mercado está em cima do seu suporte.
O Brasil deverá demandar para o próximo ano 86.3 milhões de ATRs, para atender ao mercado de exportação e consumo interno que somados chegam às 36.7 milhões de toneladas de açúcar e o etanol que deve demandar quase 28 bilhões de litros, considerando mercado interno, exportação e outros fins. Ou seja, o Centro-Sul dentro dessa equação vai precisar produzir pelo menos 575 milhões de toneladas de cana para a safra 2015/2016. Levando em consideração a situação crítica em que o setor se encontra, com poucas saídas honrosas, admitir que precisamos crescer quase 3% no próximo ano pode soar como brincadeira.
A revista inglesa The Economist trouxe matéria interessante comparando os valores atuais do petróleo e o nível mínimo de preço necessário para os países produtores pudesse levar adiante suas políticas orçamentárias. O fato é que abaixo de US$ 90 o barril a situação fica ruim para a grande maioria dos produtores, principalmente aqueles que dependem da commodity. A pergunta que se faz nas rodas de discussão é qual o valor de equilíbrio para a produção do pré-sal? Segundo especialistas na área, o petróleo brasileiro passa a ser economicamente inviável de a cotação no mercado internacional ficar abaixo de US$ 70 o barril. E, mais importante, como é que esse governo abandonou um combustível renovável como o etanol?
Estelionato eleitoral é pouco. O que Dilma já fez depois de reeleita é exatamente o que alertava sobre o que Aécio faria. Energia elétrica subindo de preço, juros subindo, aumento na gasolina, Mantega indicando redução no papel dos bancos públicos. Se o regime no Brasil fosse parlamentarista, Dilma já teria sido defenestrada. Haja fígado para aguentar essa soberba e cara de pau mais quatro anos.
Não é verdade que esse analista tenha recebido qualquer “recado” de quem quer que seja para maneirar com as críticas ao governo. Os artigos 5º e 220 da Constituição asseguram a livre manifestação do pensamento e vetam qualquer tipo de censura. Quem se sentir ofendido pode procurar a justiça. Nos quase dez anos de comentários semanais em apenas duas ocasiões recebemos críticas mais contundentes, nenhuma delas de gente ligada ao governo, mas de petistas que preferiram se esconder no anonimato
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.