Petrobras – Por Antonio Delfim Netto

Os portadores da opinião que o ente metafísico a que se dá o nome de mercado é divino, vêm a sua materialidade nas cotações das Bolsas. Trata-se de pura ideologia.
 
Deixem o mercado trabalhar livremente e ele, por si mesmo, encontrará "naturalmente" o equilíbrio gerador da estabilidade e da prosperidade! A Bolsa de Valores foi a fonte da expansão que criou o "capitalismo": a generalização da sociedade anônima; a acumulação do capital necessário para financiar empreendimentos arriscados com ações que repartem o risco e simultaneamente lhe dão liquidez; a criação dos bancos que transformam o curto prazo em longo etc.

Longa experiência histórica, entretanto, mostra que sem uma regulação que imponha alguma moralidade aos seus operadores, cuja imaginação parece infinita, o "mercado" tem uma enorme propensão à fraude que sempre pune apenas honestos e incautos investidores. Em pelo menos dois episódios --1929 e 2007--, produziram tragédias mundiais.


Quem se interessar pela história verá que, guardadas as proporções, aquelas duas crises (que não se confundem com as crises ínsitas ao sistema capitalista) tiveram a mesma origem e foram apoiadas na mesma ideologia.


Ela dominou o pensamento econômico que se seguiu à Primeira Guerra Mundial e foi posteriormente recuperada pela lenta destruição do controle rooseveltiano que salvou o "capitalismo" na crise de 1929. Meio século depois, o sistema financeiro logrou capturar o poder político nos EUA nas eras Reagan-Bush pai-Clinton-Bush filho-Obama 1-(1981-2012) e, com o apoio "ad hoc" de economistas do "mercado perfeito", destruiu toda regulação que o constrangia e restabeleceu a ideologia do "laissez-faire".


Deu no que deu, outra vez!
Logo, a opinião do tal "mercado" revelada no seu oráculo, a Bolsa de Valores, deve ser levada "cum grano salis".


A Petrobras continua, indisputadamente, no "estado da arte" na sua componente tecnológica e seu trágico desarranjo, que vai ser analisado e punido, se for o caso, pelo Judiciário, é basicamente organizacional e financeiro.


Por que, então, estranhar a escolha de dois excelentes administradores financeiros, os senhores Aldemir Bendini e Ivan de Souza Monteiro, testados com sucesso numa organização gigantesca, eficiente e de alta qualidade profissional, o Banco do Brasil?
Por que, afinal, eles precisam "entender" de petróleo como pediu o tal "mercado", se têm na diretoria técnicos que cresceram na Petrobras e entendem dele?


Aliás, o mercado, entende de petróleo? Então por que ainda está tonto com a queda dos seus preços?