Petrobras quer sócio estratégico para ir além da Braskem no setor petroquímico

Petrobras quer sócio estratégico para ir além da Braskem no setor petroquímico

A Petrobras, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), tem conversado com os potenciais compradores da Braskem sobre outros investimentos no setor petroquímico no Brasil, apurou o Valor. Neste formato, a gestora Apollo e a Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc), que se uniram e fizeram proposta formal pela petroquímica, ganham força para avançar no negócio, segundo duas fontes.

As tratativas ainda são informais e as discussões sobre os potenciais projetos que podem ser executados em parceria não foram definidos, mas a estatal tem deixado claro a esses interlocutores que busca sócios para ampliar sua presença na indústria, além da Braskem. Desde a mudança de governo, a Petrobras tem reforçado que o setor petroquímico é importante para seus negócios e que não há intenção de vender sua fatia na companhia. A estatal não deverá se posicionar oficialmente sobre o tema porque está ainda discutindo seu plano estratégico.

Bancos credores da Novonor, dona do controle, com quase R$ 15 bi em dívidas garantidas por ações da Braskem, querem manter propostas formais na mesa

Neste ponto, a combinação entre Apollo e Adnoc se enquadra por ter um sócio financeiro (a gestora americana) e um estratégico com experiência em operação petroquímica (a empresa árabe), afirmou uma pessoa a par do assunto. Em relação à proposta feita pela Unipar, parte dos bancos credores entende que a companhia de Frank Geyer Abubakir não teria fôlego financeiro no longo prazo para fazer uma consolidação no setor.

A diferentes interlocutores, Apollo e Adnoc demonstraram comprometimento com o crescimento da Braskem e da indústria petroquímica do Brasil. A própria estatal petrolífera anunciou ao mercado que recebeu uma carta das empresas com informações sobre a oferta não vinculante pela Braskem e sobre o interesse em discutir “potenciais negócios” com a empresa.

Apollo e Adnoc permanecem engajadas e já enviaram tanto para Novonor (ex-Odebrecht) quanto para a Braskem uma lista de requisições para a segunda fase de “due diligence” (auditoria) na companhia. Antes de se juntar à Adnoc, a Apollo já havia realizado uma primeira auditoria financeira na petroquímica brasileira. Agora vem a etapa mais complexa: a legal.

Além disso, segundo pessoas próximas às conversas, Apollo e Adnoc vêm sinalizando, ao longo do processo, que desejam trabalhar com a Petrobras na posição de sócio estratégico na Braskem e não querem fechar um negócio que não funcione para todos os envolvidos, incluindo a petroleira. Essas conversas já envolveram chefes de Estado e ministros, incluindo Fernando Haddad (da Fazenda).

O nó para os potenciais interessados na Braskem está, sobretudo, em Alagoas. O total do passivo ambiental é uma questão importante para quem está avaliando a companhia. Até o momento, a conta da petroquímica com o afundamento do solo em bairros de Maceió passa de R$ 13 bilhões e deve ser acrescida de mais R$ 1,7 bilhão, conforme informou o Valor.

Outro ponto é o ciclo de baixa do setor petroquímico que persiste, e isso desfavorece a ponta vendedora. Os preços das principais resinas (PE e PP) seguem em queda, pressionando os spreads (margens), e a perspectiva é que o cenário só melhore mesmo em 2024.

Os bancos credores da Novonor com quase R$ 15 bilhões em dívidas garantidas por ações da Braskem, querem manter as propostas formais na mesa e uma parte das instituições financeira não está disposta a ter exclusividade com nenhuma empresa, o que pode tirar a Unipar em breve do páreo.

A venda da Braskem tem se arrastado nos últimos anos: a companhia recebeu uma proposta da LyondellBasell em 2018, mas as negociações fracassaram no ano seguinte quando a gravidade do problema de Alagoas veio à tona. Hoje, para a Novonor, a melhor proposta colocada na mesa é a da Unipar, uma vez que a família ficaria com 4% do negócio, a joia da coroa do grupo. A Petrobras tem direito de preferência pela fatia do sócio. Mas não há uma pressa para vender a companhia a qualquer preço, segundo fontes.

No setor, há quem aposte que a Petrobras possa exercer seu direito e comprar a fatia de sua sócia.

A proposta firme da Unipar vence no sábado. Ao que tudo indica, a companhia não deve renovar a oferta, uma vez que o empresário busca exclusividade para negociar e seguir com a “due diligence”. No entanto, fontes próximas às negociações afirmam que o grupo está disposto a ser sócio da Petrobras em outros projetos petroquímicos, caso não siga adiante na oferta pela Braskem, e já houve aproximações nesse sentido.

Gigante do petróleo, a Adnoc tem demonstrado apetite por aquisições na cadeia global da química e do plástico. No ano passado, investiu € 3,9 bilhões na austríaca OMV AG, comprando ações que pertenciam ao Mubadala. Em junho, segundo a Bloomberg, fez uma oferta de US$ 12 bilhões pela Covestro, que foi rejeitada. A agência americana também informou, nesta semana, que a estatal dos Emirados Árabes Unidos e a OMV estão em tratativas para combinar a Borouge e a Borealis, criando uma companhia global de produtos químicos e plásticos avaliada em mais de US$ 30 bilhões.

Procuradas, Apollo, Adnoc, BNDES e Unipar não comentaram o assunto. Petrobras não retornou os pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.

 

Valor Econômico