A economia brasileira pode registrar primeira contração trimestral deste ano, após um primeiro semestre de alta mais robusta. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deste ano nesta terça-feira, 04. Com a expectativa de desaceleração, o indicador tende a uma retração de 0,2% na base trimestral, segundo projeções de consenso. No segundo trimestre, a economia cresceu 0,9%, enquanto a expansão no primeiro trimestre foi de 1,9%.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, concorda com a perspectiva de enfraquecimento da economia no segundo semestre, o que avalia ser motivada pela manutenção da taxa de juros Selic em patamares elevados, ainda que o Banco Central tenha iniciado o ciclo de cortes. A projeção da Veedha é de queda de 0,3% na base trimestral.
“É um ambiente restritivo para a atividade econômica. A gente teve um início de ano favorecido pelo setor agropecuário, com uma contribuição muito importante para um PIB projetado ao final de 2023, ao redor de 3%, mas outros setores mostraram ao longo desse ano, essa exaustão, diante esse quadro de juros elevados, como por exemplo o setor de serviços”.
A economista avalia que o crescimento previsto para o ano de 2023 foi favorecido por uma resiliência do mercado de trabalho, com números mais fortes do que era esperado, contribuindo para um certo patamar de renda. Já a indústria, na opinião da economista, não vem conseguindo recuperar sua vitalidade, o que considera difícil de ser revertido, principalmente num processo de desaceleração da atividade econômica.
O BR Partners (BVMF:BRBI11) também projeta contração da economia brasileira no terceiro trimestre de 2023 e concorda com a projeção negativa em 0,3% da Veedha. “Essa revisão para baixo se dá principalmente devido a uma forte queda na produção agrícola, que deve reduzir na variação trimestral. Essa queda parcialmente compensa o forte crescimento observado no primeiro semestre de 2023, que foi impulsionado por colheitas recordes de grãos”, aponta Giovanni Bianchi.
Apesar da contração no terceiro trimestre, o BR Partners estima que a economia brasileira cresça 2,8% em 2023, sustentada por uma forte produção agrícola e demanda interna resiliente, mas abaixo das previsões anteriores feitas no primeiro semestre.
“Essa leve revisão para baixo é consequência do contínuo aperto das condições financeiras pelo Banco Central do Brasil e o potencial para uma desaceleração adicional nos componentes de oferta cíclicos no quarto trimestre de 2023”, completa Bianchi, que enxerga uma perspectiva desafiadora no curto prazo.
Bianchi espera que, do lado da demanda, o consumo das famílias deve continuar a crescer, ainda que em um ritmo mais lento do que nos trimestres anteriores. Os investimentos, por outro lado, devem cair significativamente, refletindo uma perda de ímpeto no crescimento da construção e a contínua fraqueza em máquinas e equipamentos. O setor externo deve contribuir positivamente para o crescimento do PIB diante das fortes exportações agrícolas, em sua visão.
Luiz Fernando Araújo, CEO da Finacap Investimentos, detalha que ao avaliar os balanços das empresas, setores como o varejo têm sido penalizados pela redução no consumo motivada pela alta taxa de juros.
“Elas são afetadas pelo consumo, mas também pela questão de inadimplência, é quase alguma consequência direta”, exemplifica, ao ponderar que ainda há setores resilientes mesmo em períodos de atividade mais fraca, como aqueles relacionados a concessões.
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