Posição dos fundos aumenta chance de ruptura dos preços - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Posição dos fundos aumenta chance de ruptura dos preços - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Nova Iorque encerrou o pregão de sexta-feira com o vencimento março/2020 cotado a 12.35 centavos de dólar por libra-peso, praticamente inalterado em relação a semana anterior. O que surpreendeu foi a posição dos fundos divulgada pelo CFTC com base na terça-feira: eles aumentaram o volume de contratos vendidos para um novo recorde de 203,000, o que explica a queda acentuada que observamos no açúcar esta semana, deixando analistas boquiabertos e usinas apreensivas. Reforça uma vez mais a teoria deste escriba de que os fundos, movidos por algoritmos, robôs e modelos matemáticos não estão nem aí para os fundamentos.

Na verdade, nossa teoria apenas se confirma. Os fundos continuam pressionando as soft commodities como contraparte da posição comprada que constroem no mercado de energia. O acumulado no mês de outubro mostra que café e açúcar foram as soft commodities que mais caíram enquanto que as commodities de energia gás natural, gasolina e petróleo subiram.

Até quando isso vai durar? Até que ocorra uma ruptura nos fundamentos que acione o gatilho da recompra por parte dos fundos dessa enorme posição vendida. Por outro lado, aumentar o short nesses níveis, na visão dos fundos, tem risco limitado, ao passo que a posição comprada em energia está trazendo lucros. Haja vista que alguns analistas do mercado de energia lá fora acreditam que o petróleo tem enorme potencial de alta já no primeiro trimestre de 2020. Em outras palavras, os fundos podem continuar a pressionar o açúcar se sentirem que o potencial de alta no petróleo justifica a operação.

Essa queda de preços em NY no início da semana, colocando as cotações no nível mais baixo de um mês, foi praticamente recuperada nos últimos dois dias quando os fundamentos se mostraram presentes.

Qualquer notícia baixista que atinja o mercado de açúcar nos últimos tempo não tem o Brasil como origem. A situação no país mostra aquilo que todos já sabemos: consumo crescente de combustíveis ciclo Otto, perspectiva de aumento no PIB fomentando o consumo de alimentos e bebidas, redução da área plantada de cana, falta de novos investimentos, manutenção do mix favorável ao etanol.

Em tempos de algoritmos, inteligência artificial, modelos matemáticos e robôs, resta saber se uma posição vendida a descoberto de mais de 200,000 contratos é vulnerável ou não.

Nessa sexta-feira completaram-se 90 anos da quebra da Bolsa de Ações de NY em 1929. Investidores em pânico disputavam com as pombas os estreitos parapeitos dos prédios altos e de lá se atiravam desacorçoados com a perda de valor dos seus papéis.

Na próxima semana teremos em São Paulo a décima edição do Sugar Dinner Brazil, ocasião em que as principais cabeças pensantes do mercado local e mundial de açúcar se reúnem, num jantar de Gala, promovido pelo Sugar Club, entidade da qual tive a honra de ser o primeiro presidente no jantar inaugural de 2001, e hoje é comandada por Rui Sabino. Vários eventos ocorrem durante a semana, o que garante que o consumo de etanol se mantenha alto. Imagino que o tom será construtivo para os preços, considerando que os fundamentos confirmam essa tese.