Preços melhores nesta safra 2019/20. E daí? - Por Julio Maria M. Borges

Preços melhores nesta safra 2019/20. E daí? - Por Julio Maria M. Borges

A safra no Centro-Sul começou oficialmente em 1º de Abril. O que observamos nos primeiros quatro meses de safra são preços acima daqueles da safra passada. Várias razões explicam esta situação: A taxa de câmbio foi mais alta que nos primeiros quatro meses do ano passado : 3,89 versus 3,66 R$/US$ em 2018. O preço…

A safra no Centro-Sul começou oficialmente em 1º de Abril. O que observamos nos primeiros quatro meses de safra são preços acima daqueles da safra passada.

Várias razões explicam esta situação:

  • A taxa de câmbio foi mais alta que nos primeiros quatro meses do ano passado : 3,89 versus 3,66 R$/US$ em 2018.
  • O preço do açúcar no mercado externo (NY – 1º vencimento) registrou níveis mais altos : 12,30 versus 11,70 ¢/lb.
  • No caso do etanol, o suporte para preços veio da boa demanda para o produto, que sugere uma oferta restrita do mesmo ao longo da safra. O preço da gasolina na refinaria, que dá suporte para preços na bomba, caiu no 1º quadrimestre desta safra em relação a safra passada como reflexo da queda no preço do petróleo: 1,69 versus 1,89 em 2018

Resumindo o que aconteceu no mercado interno de São Paulo, nos primeiros quatro meses da safra, temos o seguinte:

Preço médio posto usina                               (variação sobre 2018)

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Açúcar (ICMS 7%)                                         R$ 59,94/saca 50kg                     (17,9%)

Etanol hidratado (liq. impostos)                      R$ 1,71/litro                                (10,5%)

Etanol anidro (liq. impostos)                           R$ 1,91/litro                                (10,9%)

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Os custos

Preços melhores . Boas notícias para o produtor. Principalmente para as usinas mais eficientes e capitalizadas. Porque?

Considerando o custo médio do setor sucro-energético em São Paulo na presente safra 2019/20, podemos observar que os preços médios do primeiro quadrimestre da safra, mesmo sendo melhores que no mesmo período da safra passada, ainda não cobrem a totalidade dos custos de produção. Estes são entendidos como “despesas + depreciação + juros pagos a terceiros + juros sobre capital próprio”.

A cobertura dos custos totais pelos preços varia de 85% a 91%. Ou seja, o endividamento das usinas com custo acima da média vai aumentar nesta safra 2019/20.

Consequências

Esta condição de preços insuficiente para a cobertura dos custos de produção tem-se repetido nos últimos anos. Ou seja, os mercados não têm mostrado disposição de pagar o custo médio dos produtos de cana do Centro-Sul do Brasil. A natural consequência disto será o fechamento de usinas menos eficientes, geralmente menores, que não têm condições de sobrevivência econômica.

Como consequência deste movimento, haverá uma maior concentração da oferta devido ao fechamento ou aquisição das usinas menos eficientes por grupos mais eficientes. E o custo médio de produção será reduzido . A atividade econômica ficará fortalecida com este processo de fusão e aquisição.

Este processo de concentração da oferta vem acontecendo, de forma geral, no Brasil e no mundo, em diversos setores da atividade econômica. Neste novo mundo, o consumidor reduz suas opções de compra e corre o risco de ser pior atendido em suas necessidades e expectativas.

 

*Julio Maria M. Borges é economista pós-graduado e professor da USP. Foi assessor-chefe da Copersucar por 14 anos, responsável pelas áreas de economia, planejamento estratégico e relações institucionais da empresa. Desde 1994, é diretor executivo da Job Economia e Planejamento, empresa especializada na agroindústria canavieira. É consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).