O volume de contratos futuros de açúcar negociados na bolsa de NY nesta semana foi inferior àquele verificado na semana de Natal. Este é o retrato nu e cru de um mercado desprovido de notícias animadoras e imobilizado na angustiante espera de revigorantes dados de consumo que parecem não existir.
De olho na evolução da produção mundial de açúcar os fundos não encontram estímulos para adicionarem novas posições, pois estão comprados em um mercado que está praticamente de lado há dois meses (a média dos fechamentos de março para cá é de 11.25 centavos de dólar por libra-peso). Fundos gostam de volatilidade e emoções fortes e o açúcar está há quatorze semanas apertado num intervalo de 100 pontos.
O vencimento outubro/2020 em NY encerrou a sexta-feira cotado a 11.49 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 24 pontos ou pouco mais de 5 dólares por tonelada em relação ao fechamento da semana anterior. Observamos que os meses com vencimento mais curto fecharam em média quatro dólares por tonelada abaixo dos vencimentos mais longos. Pode ser que algumas usinas com menos folga no fluxo de caixa e que, por isso, estão atrasadas na fixação ainda desta safra, tenham acelerado o volume de hedge até mesmo em função do contrato que possuem com as tradings, que é mais restritivo para fixações de preço para períodos superiores a 180 dias antes do embarque efetivo.
O real teve bom desempenho na semana fruto das movimentações no congresso em direção a uma reforma tributária que dá algum ânimo ao mercado financeiro com a percepção (correta ou não) de diminuição do risco país.
Com o dólar encerrando a semana por volta dos R$ 5.2300, queda de 3% em relação à semana passada e o açúcar também caindo, as fixações em reais por tonelada para esta safra e as seguintes recuaram R$ 86 por tonelada na semana para a safra 20/21, R$ 68 para a 21/22 e R$ 48 para a 22/23. Tenho insistido muito aqui que os preços em reais por tonelada são imperdíveis.
O modelo da Archer Consulting apurou que as usinas fixaram 900.000 toneladas de açúcar durante o mês de junho destinadas à exportação durante a safra 2021/2022 elevando o total fixado para 4.2 milhões de toneladas de açúcar ao preço médio de 12.07 centavos de dólar por libra-peso sem prêmio de polarização. Se assumirmos uma exportação de 25 milhões de toneladas, o percentual de fixação é de 16.8%, volume sem precedentes em relação aos anos anteriores, pois as usinas nunca se anteciparam dessa forma para a fixação de uma safra seguinte, quando a corrente está ainda no início.
O valor médio da fixação é de R$ 1,418.67 por tonelada FOB Santos, com prêmio de polarização, equivalentes a R$ 0,6176 por libra-peso com pol. O dólar médio de junho foi de R$ 5.1918 com uma queda de 7.93% em relação ao preço médio do mês anterior.
Enquanto agosto e setembro não vem, para que se tenha uma visão menos embaçada do que pode acontecer com o mercado de açúcar e de energia (refiro-me aos preços do petróleo, gasolina e, obviamente, etanol), a Índia aumentou sua estimativa de exportação de açúcar para a safra 2020/2021, que se inicia em outubro próximo, para 6 milhões de toneladas.
Vamos fazer o cálculo juntos: o subsidio para a exportação de açúcar na Índia é de 140 dólares por tonelada pagos depois do embarque (demora, mas o governo paga). O custo de produção na Índia, segundo nosso levantamento, é de 19.15 centavos de dólar por libra-peso na unidade produtora. Se descontarmos o subsidio isso dá 12.80 centavos de dólar por libra-peso na unidade produtora. Se adicionarmos mais 100 pontos para despesas de transporte e embarque no porto é razoável assumir que se NY negociar entre 13 e 14 centavos de dólar por libra-peso, a Índia vai inundar o mundo de açúcar, completando sua quota de 6 milhões de toneladas.
Enquanto isso, desse lado do planeta, o Centro-Sul já produziu cumulativamente até a primeira quinzena de julho de 2020 – segundo a UNICA – 16.3 milhões de toneladas de açúcar quase 50% acima do volume de igual período do ano passado (10.9 milhões de toneladas). O etanol sofreu pequeno retrocesso: a produção total até a primeira metade de julho alcançou 12.1 bilhões de litros contra 12.9 no mesmo período da safra passada. O mix de produção está em 46.69% para açúcar e 53.31% para etanol, mostrando uma migração de 11.8% de cana do etanol para o açúcar se comparado com os números do ano passado.
Fundos estão long (comprados) um total de 81.322 lotes (se bem que devem ter reduzido a posição com as vendas fortes observadas na semana em NY) e vão precisar rolar essa posição para o vencimento seguinte (vendendo o outubro e comprando março), colocando pressão no spread outubro/20 – março de 2021; o Centro-Sul parece não ter muito mais volume para fixar contra outubro e março referentes à safra 2020/2021, mas ainda assim devem ter cerca de 35.000 – 45.000 lotes para vender (fixar); a Índia vai começar a fixar também em qualquer elevação súbita de preços (rally); mais açúcar vai ser produzido no Centro-Sul e esperamos um estoque de passagem bastante alto. Em que circunstância podemos esperar que surjam compradores interessados no açúcar?
Voltando ao ponto que temos falado aqui neste espaço: agosto e setembro são decisivos para que as percepções se solidifiquem. Mas, ao que parece, olhando o nebuloso quadro atual, o mercado vai precisar de uma conjunção de boas notícias para que possa transpor os 13-14 centavos de dólar por libra-peso. Mas, esse é também um preço que a Índia aguarda ansiosamente.