Quem tem medo do lobo mau? – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O açúcar passou a semana se consolidando num estreito intervalo de 90 pontos, com a máxima de 20.44 e a mínima de 19.54 centavos de dólar por libra-peso, para encerrar a semana com apenas 6 pontos de alta em relação à semana anterior. O vencimento outubro/2016 fechou a sexta cotado a 19.77 centavos de dólar por libra-peso. O spread outubro/março enfraquecido mostra que a demanda no físico continua aborrecidamente anêmica.
Por outro lado, as exportações brasileiras de açúcar no mês de julho alcançaram 2.9 milhões de toneladas elevando o acumulado de doze meses para 26.75 milhões de toneladas (de agosto de 2015 até julho de 2016), 10.4% a mais do que o mesmo período do ano passado. O acumulado no ano safra (de abril até agosto) soma 9.1 milhões de toneladas, o maior volume desta década.
Alguns traders argumento que a fraqueza do spread outubro/março deu-se em função da rolagem das posições compradas dos fundos para o vencimento março. Ao efetuarem a rolagem eles pressionam o outubro (que estão vendendo) e impulsionam o março (que estão comprando), fazendo com o spread se alargue. É um argumento. A pergunta de dois bilhões de dólares – visto que é esse o valor aproximado de ganho que os fundos estão obtendo – é por que os fundos rolaram uma posição comprada trazendo 50 pontos de prejuízo nos seus portfolios ao invés de liquida-la e embolsar toda essa dinheirama que estão ganhando?
O mercado financeiro mundial tem mais de uma dúzia de trilhões de dólares investidos a juro negativo. É tarefa difícil para um investidor colocar dinheiro para ter uma rentabilidade de 1% ao ano que seja (e só dobrar o capital, em tese, a cada 70 anos), enquanto ativos de riscos que retornem ao menos 5% já diminuiriam essa “espera” sombria em 56 anos. Deve ser essa uma das razões que justificam os fundos manterem uma posição de 323.500 lotes. Porque acreditam que o mercado vai continuar subindo.
O modelo de previsão de preços da Archer Consulting aponta que poderemos ter preços médios (fechamento do primeiro mês de negociação) no açúcar em NY de 20.67 centavos de dólar por libra-peso para setembro, 22.47 centavos de dólar por libra-peso para outubro, 22.59 centavos de dólar por libra-peso para o novembro e 23.50 para dezembro. Nunca é demais lembrar que modelos são falhos. No entanto, veja o gráfico e compare a previsão (linha pontilhada) com o valor efetivo (linha sólida).
Olhando os fundamentos e fatores exógenos que podem ser considerados altistas ou baixistas, está muito mais difícil encontrar esses últimos. O que pode colocar esse mercado para baixo? Já vimos que o mercado tem um sólido suporte ao redor de 18.50 centavos de dólar por libra-peso e além do mais consumidores industriais dizem estar preocupados com a escalada de preços do açúcar e a diminuição da margem de seus produtos. Vender puts (opções de venda) de 18.50 centavos de dólar por libra-peso ao longo da curva tem sido uma boa oportunidade para diminuir custo de aquisição.
Como comentamos aqui recentemente, o fator de maior peso que vemos com possível efeito de desestabilização do preço do açúcar é o preço do petróleo. Se for abaixo de 40 dólares por barril vai levar o açúcar junto. A alta dos juros americanos, a baixa demanda no mercado de exportação, uma eventual entrega “monstro” contra o vencimento outubro/2016 daqui a seis semanas e o esgotamento da paciência dos fundos na esperança de preços mais altos podem ser os ingredientes para uma liquidação de magnitude. Mas, quem acredita no Lobo Mau?
A segunda estimativa de fixação de preços das usinas no mercado futuro de NY para a safra 2017/2018 aponta, segundo o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, que até o final de julho/2016 4,28 milhões de toneladas já haviam sido fixadas (16.1% da exportação estimada). O preço médio apurado foi de 16.15 centavos de dólar por libra-peso. Não temos elementos para comparar esse volume com o das safras anteriores, porque nunca houve tamanha antecipação de fixação de preços como agora. Para se ter uma ideia, esse percentual de 16.1% só foi alcançado entre agosto e setembro das safras anteriores (desde 2012/2013 quando iniciamos o monitoramento). O valor médio ajustado de fixação, considerando as NDFs (contratos a termo de dólar com liquidação financeira), apontam para R$ 1.499,89 por tonelada, ou 65.29 reais por libra-peso.
E o etanol, hein? Nossa simulação de oferta e demanda do Brasil mostra que teremos uma entressafra extremamente apertada para o etanol. O preço atual do hidratado colocado na equivalência com o açúcar em NY mostra um desconto de 500 pontos, ou seja, 14.71 centavos de dólar por libra-peso. Alguém acha que esse desconto vai perdurar. Comprar etanol na BM&F Bovespa e vender açúcar em NY não seria uma boa estratégia para o último trimestre do ano?
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting