Quer investir no setor sucroenergético? Tudo começa com uma boa due diligence - Por Dib Nunes Jr., e Ricardo C. Deotti

Quer investir no setor sucroenergético? Tudo começa com uma boa due diligence - Por Dib Nunes Jr., e Ricardo C. Deotti

Muito aprendemos após 38 due diligences na área agrícola do setor sucroenergético

Na área agrícola das empresas do segmento sucroenergético se concentram os maiores riscos e os maiores problemas e apresenta campo propício para uma due diligence ser bem-feita. Para esta avaliação, são envolvidos diversos contingentes de colaboradores e os mais variados recursos de produção.

Sua imprevisibilidade é alta e as situações encontradas são, muitas vezes, as mais criativas e inusitadas. Alguns problemas se repetem, mas muitas tecnologias utilizadas são geradas e aplicadas quase que exclusivamente em suas próprias condições. Na análise levantada por uma due diligence se encontram muitos diferenciais competitivos e também se escondem os grandes riscos para quem está interessado em adquirir um negócio sucroenergético ou simplesmente investir nele.

As rotinas de relacionamento com o mundo do agronegócio, sejam fornecedores, parceiros, órgãos públicos e instituições comerciais, são com frequência muito peculiares, seja no âmbito operacional, legal, comercial, financeiro ou estratégico. Muitas vezes a viabilidade da empresa está diretamente ligada a diversos destes fatores.

Os principais pontos de riscos encontrados estão ligados a contratos mal elaborados, contratos com elevada concentração de vencimentos e valores acima do mercado, dependência de fornecedores de cana e de terras, canaviais de baixa produtividade, regiões com problemas ambientais, solos de menor fertilidade, relevo impróprio para a mecanização, frota velha ou reduzida com elevado índice de terceirização, resultados operacionais ruins nas operações de colheita e transporte, logística extremamente comprometida - com longas distâncias das áreas de produção -, estradas ruins e acesso difícil às propriedades produtivas.

É importante também, numa due diligence, avaliar o nível técnico do quadro de gestores em posição estratégica e seu comprometimento com as metas da empresa. Além disso, deve-se apurar os custos de produção das principais etapas do sistema produtivo de cana e compará-los a fontes críveis. A avaliação da eficiência dos serviços de apoio necessários às operações de campo, a possibilidade de expansão da lavoura e a imagem que a empresa tem junto a produtores, proprietários de terras e prestadores de serviços da região são também muito importantes.

Há regiões onde a concorrência com outras empresas agrícolas e outros negócios é extremamente impactante a ponto de deixá-las sem condições de recuperação de produtividade ou de redução de custos. Embora o nível de credibilidade seja também medido pela análise financeira e pelo cumprimento de compromissos assumidos com instituições financeiras e fornecedores, o prestígio que a empresa acumulou na região pode ter um enorme peso na sobrevivência e no sucesso da empresa.

O levantamento do Capex (em português, despesas de capital ou investimento em bens de capital) necessário para os próximos anos para recuperação ou crescimento da empresa é também fundamental para que o investidor fique sabendo qual deve ser o capital a ser aplicado. As avaliações dos ativos biológicos darão a ideia do capital armazenado no campo, do seu potencial para produção de açúcar, etanol e energia elétrica e quanto a empresa precisará investir para garantir o faturamento futuro e o pay back pretendido no negócio.
Os potenciais investidores correm riscos muito grandes quando a due diligence não é realizada por empresas experientes e capacitadas para analisar todos estes fatores que certamente poderão comprometer ou alavancar o negócio sucroenergético.

Segundo informações levantadas pelo Grupo IDEA, consultoria especializada em due diligences, grande parte dos novos players que acessaram este mercado na década passada não obtiveram o sucesso esperado. Por não conhecerem a cultura do setor ou por desconhecimento da complexidade da produção canavieira, agora estão tentando se livrar do negócio, colocando o patrimônio adquirido à venda. Querem recuperar o que investiram, mas certamente contabilizarão pesadas perdas ao sair.

Muitos casos começaram com due diligences imprecisas e malfeitas, que não apuraram corretamente índices de produtividades e de rendimentos, apontando para faturamento muito acima do seu potencial. Com os seis anos de crise de preços do setor, a situação se agravou e não atingiram os níveis de faturamento desejados. Algumas empresas recorreram a chamadas de capital, outras simplesmente já passaram o bastão para credores ou fecharam as portas.

As empresas avaliadoras especializadas no negócio canavieiro, que realizam due diligences, usam nestas avaliações indicadores de desempenho técnico-operacionais atualizados e de alta credibilidade para fins de comparação com o mercado, além de estarem muito atentas aos dossiês preparados por aqueles que tentam valorizar demais seus ativos ou esconder ineficiências dentro da complexidade da produção canavieira.

Muitas vezes as diferentes realidades podem esconder verdadeiras armadilhas ou até mesmo tesouros, cujo desvendamento e elucidação podem determinar o sucesso ou o fracasso dos futuros investimentos.

O setor sucroenergético sempre trabalhou com margens estreitas e não pode ter riscos ou obrigações muito elevadas a cumprir, pois tornam o investimento inviável. O levantamento bem balizado de dados é importante para alimentar as planilhas de modelagem financeira do negócio, usadas para decisões finais dos investidores.
O conhecimento da realidade da área agrícola de cada empresa avaliada é, portanto, trabalho a ser realizado por profissionais experientes, devidamente qualificados e que disponham de amplo conhecimento e expertise na identificação e no tratamento a ser dispensado a todas estas peculiaridades. Sua visão, avaliação e parecer embasam as tomadas de decisões corretas e evitam muitas surpresas desagradáveis.

A melhoria dos cenários e a mudança de rumos da política econômica do Brasil estão atraindo novos investidores ao mercado. Porém, estão muito mais cautelosos em relação à situação das empresas, procurando analisá-las com maior nível de detalhes antes de realizarem investimentos para a transferência do controle acionário.

Somente uma equipe especializada em auditorias e diagnósticos é que poderá dar segurança aos novos entrantes, identificando o real potencial produtivo e os gargalos da empresa avaliada, firmando-se nos principais pontos críticos ou favoráveis de cada caso, além de detectar as possíveis ameaças e oportunidades inerentes ao negócio.

O Grupo IDEA realizou oito due diligences em empresas sucroenergéticas no segundo semestre de 2016. Já ao longo dos últimos anos, realizou 38 avaliações desta natureza. As recentes buscas por due diligences demonstram que os investidores voltaram a enxergar oportunidades de negócios neste setor no Brasil. Bons ventos voltaram a soprar.
 
* Dib Nunes Junior, engenheiro agrônomo e diretor do Grupo IDEA
** Ricardo C. Deotti, engenheiro agrônomo