Refinarias de papel – Editorial O Estado de S.Paulo

Refinarias de papel – Editorial O Estado de S.Paulo

A dramática situação a que a Petrobrás chegou não é resultado apenas de sua espoliação por parte de uma quadrilha de corruptos. É consequência de anos de uma administração que desrespeitou critérios técnicos e tomou decisões controversas, de altíssimo custo, somente para atender a interesses políticos. Não há contabilidade que resista a tanta prevaricação, razão pela qual a companhia se viu agora na contingência de abandonar projetos que já custaram bilhões à empresa.

Conforme revelado no balanço não auditado da Petrobrás divulgado na madrugada de quarta-feira passada, a empresa, "diante dos resultados econômicos alcançados até o momento", desistiu de construir as refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará. A estatal diz ter levado em conta também as "taxas previstas de crescimento dos mercados interno e externo de derivados", isto é, a queda internacional dos preços dos combustíveis e a provável desaceleração da demanda interna em razão do ajuste econômico. Além disso, diz a Petrobrás, não apareceu nenhum parceiro disposto a entrar como sócio da companhia nas refinarias, condição tida como essencial pela atual administração, dado o estado lamentável de suas contas.


Trocando em miúdos, isso quer dizer que não há mais dinheiro para os projetos. Somente a Premium I estava orçada em R$ 41 bilhões e seria a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Abandonar esses empreendimentos significa, simplesmente, jogar fora R$ 2,7 bilhões, que é o total investido desde 2010. Esse valor supera em R$ 700 milhões as perdas calculadas com a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, um dos símbolos da incúria administrativa na Petrobrás.


No caso da Premium I, cuja operação deveria começar em 2016, foram gastos R$ 2,1 bilhões - e a obra não passou da fase da terraplanagem. Também estava nesse estágio a Premium II, em que foram despendidos quase R$ 600 milhões e que deveria começar a operar em 2017 ou 2018.


Esse descalabro já era previsível quando ficou claro que as refinarias foram projetadas para funcionar como moeda de troca política entre o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o coronelato do Maranhão e do Ceará. Como resultado desse modo de proceder, característico das gestões lulopetistas, os projetos foram tocados aos trambolhões, sem o necessário cuidado - a pressa respeitou o calendário das inaugurações políticas, e não as limitações de engenharia.


No caso da refinaria do Maranhão, por exemplo, o Tribunal de Contas da União constatou irregularidades na terraplanagem e informou que "a gênese de todo o problema parece estar na decisão de iniciar-se uma obra desse porte sem um planejamento adequado, passível de toda sorte de modificações".


O critério técnico, portanto, sempre foi irrelevante. "Se dependesse da Petrobrás, ela não gostaria de fazer refinarias", disse Lula em entrevista ao jornal Valor em 2009, deixando claro, no seu linguajar voluntarista, que o investimento nas refinarias era uma imposição que não poderia ser contornada por restrições de projeto.


O mesmo padrão presidiu a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que deveria selar a sociedade entre Lula e o caudilho venezuelano Hugo Chávez - que nunca pagou sua parte no negócio. O custo desse mimo a Chávez saltou de US$ 2,5 bilhões para US$ 20 bilhões, graças à corrupção e aos erros do projeto. Poucas vezes a irresponsabilidade de um governo custou tão caro ao País.


Deve-se salientar que um dos grandes problemas do setor de combustíveis no País é a falta de refinarias, o que torna o Brasil dependente da importação de derivados do petróleo. A construção desses complexos industriais, portanto, é uma necessidade. No entanto, como as administrações lulopetistas são especialistas em transformar necessidade em oportunidade, o projeto agora abandonado de construção de refinarias serviu somente para que alguns ganhassem muito dinheiro e para que Lula brilhasse no palanque, de onde nunca sai