Safra 2021/22 deve ser menor e impulsionar preços - Por Marcos Fava Neves

Safra 2021/22 deve ser menor e impulsionar preços - Por Marcos Fava Neves

Boletim Cana30: resumo de outubro e os pontos selecionados para novembro

Vamos aos nossos fatos relevantes do mês de outubro e as perspectivas para novembro. Na cana… segundo a UNICA, o total de cana-de-açúcar processada na safra 2020/21, até 16 de outubro, chegou a 538,13 milhões de toneladas, 5% a mais que o registrado no mesmo período de 2019. No acumulado da safra 2020/21, o índice de ATR atingiu 144,32 kg, (+4,5%). 239 usinas estavam em operação até o dia 1° de outubro, frente as 234 de 2019. 24 unidades já encerraram as atividades de moagem. A cana está no final.

A produção acumulada de açúcar atingiu a marca de 34,67 milhões de toneladas, montante 45,92% superior ao ano passado. O volume de etanol produzido no acumulado da safra 2020/2021 totalizou 25,57 bilhões de litros, 7,49% inferior ao assinalado no último ciclo.

A Canaplan estima que a safra 2020/21 da região Centro-Sul terminará com 595 milhões de toneladas 2,2% acima do ano passado, uma das melhores safras da história com um ATR total de 143kg/ha. Com isto, teremos 37,5 milhões de toneladas de açúcar, e 27,1 bilhões de litros de etanol. Para a próxima safra, a consultoria projeta processamento de 575,3 milhões de toneladas, gerando 33,4 milhões de toneladas de açúcar (45% do mix) e 25,8 bilhões de litros de etanol (55% do mix).

As exportações do setor sucroenergético em setembro subiram quase 90% em comparação a setembro de 2019, chegando a US$ 1,14 bilhão, de acordo com dados do MAPA.

A produção de cana na Tailândia deve ser 2,6% menor na safra 2020/21 do que no ciclo anterior, fechando em 73,9 milhões de toneladas devido à falta de chuvas nas regiões produtoras, estima o USDA. Como consequência, a produção de açúcar deve diminuir em 450 mil toneladas, com um total de 7,85 milhões (-5%).

No mercado de CBIOS, a compra pelos distribuidores já totaliza 5,7 milhões de títulos, segundo dados da UNICA. Importante recordar que a meta para 2020 é de 14,5 milhões de créditos, sendo que 12 milhões já estão disponíveis para aquisição. O título estava ao redor de R$ 60 no fechamento desta coluna.

Outra boa notícia em relação à sustentabilidade foi que a Raízen vendeu pellets de biomassa de cana para empresas internacionais de energia, principalmente europeias. Segundo a empresa, seu principal concorrente é a madeira, e o poder calorífico do pellet de biomassa está chegando próximo. E ser do setor de cana a melhor empresa do Brasil pelo levantamento do Valor é motivo de orgulho ao setor. Parabéns mais uma vez à São Martinho.

No açúcar…em setembro foram exportados US$ 888,38 milhões, com crescimento de 113,3% frente a 2019. A China cresceu suas compras em 230,3%, a Índia em 474% e Bangladesh em 207,4%.

A StoneX estima déficit global de açúcar na temporada 2020/21 (out/set) de 2,2 milhões de toneladas e de 2,6 milhões para 2019/20. A produção global deverá alcançar 183,8 milhões de toneladas em 2020/21, enquanto que a demanda está projetada em 186 milhões. A consultoria ainda projetou produção de açúcar brasileiro no Centro-Sul na safra 2021/22 (abr/mar) em 34,6 milhões de toneladas, retração de 8,7% frente ao ciclo anterior. A Datagro também divulgou sua estimativa de produção de 36 milhões de toneladas (-5,3%) e mix 46,5% para açúcar.

A Datagro estima para a safra 2021/22 a produção de 39,7 milhões de toneladas de açúcar, 2 milhões a menos que nesta. Nesta safra devemos produzir cerca de 38 milhões no Centro Sul e 41,65 no Brasil todo. O mix da próxima safra deve ser de 46,88% para açúcar.

De acordo com dados divulgados pela ISMA, a produção de açúcar indiana na safra 2020/21 (out-set) deve ser de 31 milhões de toneladas, crescendo 13% frente à atual, devido a expectativa de crescimento na área plantada em 9%. Com isso o país asiático deve exportar 6 milhões de toneladas.

O índice de preços no açúcar atingiu os maiores níveis dos últimos sete meses na segunda quinzena de outubro. Os contratos futuros de março foram negociados a 14,72 cents/libra, após quase atingirem 15,00 centavos.

No mercado doméstico, o CEPEA/USP registrou preços de açúcar superior aos R$ 90,00 a saca, o que não era visto de 2016, e com tendência de alta.

No etanol…a produção de etanol chegou ao acumulado de 25,5 bilhões de litros na safra 2020/21, de acordo com a UNICA, 7,5% menor que o registrado em outubro de 2019. As diminuições foram de 4,82% e 8,64% para o etanol anidro e hidratado, respectivamente. A comercialização acumulada de etanol é de 15,9 bilhões de litros, retração de 15% frente ao ano anterior.

A produção de etanol de milho quinzenal em outubro atingiu 120,2 milhões de litros, e o acumulado da safra 20/21 já é 90% maior que o da anterior, alcançando 1,27 bilhão de litros. Ainda no mercado de etanol de milho, a FS Bioenergia anunciou que vai aumentar sua capacidade produtiva da planta em Sorriso – MT, de modo a produzir 810 milhões de litros por ano, 720 mil toneladas de DDGs, 23 mil toneladas de óleo, e até 170 mil MWatts de energia elétrica. A planta, que será a maior do país no setor, deve ser inaugurada até a metade de 2021.

As exportações de etanol somaram US$ 124 milhões em setembro, alta de 10,9% frente ao setembro de 2019.

O preço da gasolina nas refinarias da Petrobras será reduzido em 5%, conforme divulgado na última semana de outubro. Com o reajuste, o combustível irá totalizar queda de preço na ordem de 13,7% desde o começo do ano. Para o diesel deve haver queda de 4%, de modo a totalizar baixa de 27,3% no acumulado do ano. Ou seja, mesmo com o efeito do câmbio, a queda do preço do petróleo neste ano foi grande, traduzindo nestes preços no mercado interno.

Estimativa realizada pelo Itaú BBA revela que podemos ter um déficit de etanol para atender o mercado interno no ciclo 2021/22 na ordem de 1 bilhão de litros. O preço estimado do hidratado nas usinas pode superar os R$ 2,00/litro ao longo de 2021.

A Datagro espera que na safra 2021/22 tenhamos 30,9 bilhões de litros (28,8 bilhões de litros no Centro-Sul), o que representa quase 5 bilhões a menos que 2019/20, incluindo o etanol de milho.

Novos mandatos para uso de etanol, segundo a Copersucar, podem criar um mercado global adicional de 55 bilhões de litros, puxados pela necessidade de sustentabilidade. Há grande expectativa com a China, Canadá e México, fora o Brasil com o Renovabio. Somente estes 4 mercados podem aumentar cerca de 30 bilhões. Mas a maior chance seria nos EUA, se passar de 10 para 15% a mistura, aumenta em 25 bilhões de litros. O Brasil e os EUA hoje tomam 80% das exportações deste produto, e o volume exportado é de apenas 10% da produção mundial (cerca de 130 bilhões de litros).

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar agora em novembro na cadeia da cana:

Observar o consumo de etanol no mercado interno. Ao fechar esta coluna pelos dados da SCA o litro do hidratado estava R$ 2,48 com impostos nas usinas e o anidro a R$ 2,56. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 40,11.

Acompanhar os impactos do coronavírus no consumo mundial do açúcar. Ao fechar a coluna o açúcar a cerca de 15 cents/libra peso na tela de março de 2021. Com o câmbio atual, é um elevado preço em reais. Temos bom câmbio, boas exportações para a Asia, e quebras na Tailândia, que representou uma grande janela. Ano que vem temos que alocar mais cana para etanol e fazer o mercado de açúcar permanecer firme. A Índia, com o aumento de produção, é o fator baixista principal nesta safra que se iniciou. Acredita-se que a maior parte do estoque ainda existente hoje no Brasil já foi vendida.

Os impactos desta falta de chuvas no desenvolvimento da safra 2021/22. Expectativas são que teremos apenas 575 milhões de toneladas de cana em 2021/22, entre 3 a 4% a menos que nesta safra.

Exportações de açúcar do Brasil que estão incrivelmente altas e estoques caindo, o que pode refletir na situação da próxima safra e preços no mercado interno;
Observar o que deve acontecer com as eleições nos EUA e as políticas na área do etanol de milho e nas questões ambientais.

Valor do ATR: Começamos em abril com o ATR a R$ 0,70/kg. Em maio, caiu para R$ 0,6934 continuando a cair em junho para R$ 0,676 e em julho para R$ 0,66, trazendo o acumulado para a mínima do ano, R$ 0,676. A partir de então os ganhos vêm sendo expressivos, com agosto fechando a R$ 0,694 e setembro próximo a R$ 0,73, e outubro com pouco mais de 0,79. Com isto o acumulado já chegou em R$ 0,705. Minha previsão feita no inicio da safra de valor final de R$ 0,707 ficou para Hoje creio que encostaremos no R$ 0,74 até o final da safra (valor acumulado).

(Este texto contou com a inestimável ajuda de Vinicius Cambaúva e Vitor Nardini Marques)

Marcos Fava Neves - Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.