Safra brasileira 2020/21 sofre com seca e geada e safras não ajudarão na economia e na inflação, como desejaríamos - Por José Luiz Tejon

Safra brasileira 2020/21 sofre com seca e geada e safras não ajudarão na economia e na inflação, como desejaríamos - Por José Luiz Tejon

A seca atrasou o plantio da soja, que resultou no atraso da safrinha do milho. E agora a geada recente forte no Paraná e São Paulo prejudicam ainda mais o milho, além da cana, café, e das pastagens, com prejuízos para a pecuária de corte e de leite. Por outro lado os preços dos insumos cresceram significativamente em função da lei da oferta e da demanda.

Conversei com Eduardo Monteiro, presidente da Associação Nacional para Difusão do Adubo (ANDA), e ele revelou que 85% do fertilizante para a safra 2021/22, a que começa a ser plantada no segundo semestre deste ano, já está vendido. Existe cerca de 15% ainda disponível, mas com o custo de importação já feito em dólar alto, e mesmo que haja queda da taxa do dólar agora, não irá diminuir o preço do fertilizante. As commodities seguem com preços elevados, mas sempre será incerto o prognóstico de quanto tempo o ciclo de alta pode durar.

E agricultura brasileira é movida a fertilizante, que vem de minas de parte da Nigéria, Bielorrússia, Canadá, sendo que temos uma dependência de 85% de importações. Além de tudo estaremos plantando a próxima safra sob um risco de crise hídrica, seca, o que pode apresentar menor produtividade.

Em síntese, não teremos por parte da agropecuária uma salvação como era esperada, principalmente por uma queda de 15 milhões de toneladas de milho. Isso impacta as exportações e o custo da ração para os setores de aves, suínos e ovos. Estamos importando e as exportações chegam da mesma forma com alto custo. Em 3 décadas o Brasil aumentou em 450% o uso do fertilizante enquanto o mundo cresceu 50%. Os preços no interior do Mato Grosso tem crescido na faixa de 30 a 45% por tonelada de adubo comparado a safra anterior.

Precisamos de uma estratégia, de um planejamento estratégico que permita adentrarmos áreas de pastagens degradadas, boas para alimentos. São algo em torno de 90 milhões de hectares, o dobro do que utilizamos hoje, e podemos produzir ali sem tirar uma árvore sequer. Da mesma forma precisamos de um plano de diminuição da dependência internacional dos fertilizantes, urgente. E como fala o ex-ministro Roberto Rodrigues, seguro rural é fundamental para dar segurança para plantar mais e obtermos segurança alimentar da população. Não teremos superssafra, e a nova safra também não aponta para ser superssafra.

Uma notícia ruim para os cenários da economia e da inflação no biênio 2021/2022. A mensagem aos produtores é muito bom senso, boas práticas agrícolas e pés no chão. E aos consumidores, muita racionalidade e consumo consciente.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão

*José Luiz Tejon Megido é colunista do Jornal Eldorado, doutor em Educação, mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fecap; membro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) e do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e sócio-diretor da Biomarketing.

 

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