Safra de cana do Centro-Sul deve ser maior do que o previsto - Por Lívea Coda

Safra de cana do Centro-Sul deve ser maior do que o previsto - Por Lívea Coda

O canavial brasileiro não para de surpreender positivamente. A produtividade acumulada atingiu 93,6 t/ha após um ótimo resultado em julho, de 98 t/ha. O relatório da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica) também mostrou um forte resultado na última quinzena – mesmo com algumas chuvas esparsas. 

Cerca de 46,5 milhões de toneladas foram moídas e 3,46 milhões de toneladas de açúcar foram produzidas, no entanto, o mercado reagiu devido ao vencimento das opções e novas notícias em relação à safra da Índia. Rumores antigos foram renovados quando a indústria e os governo do país asiático declararam que a produção de Maharashtra deve cair quase 14% em 2023/24. 

Além disso, durante a semana o governo federal brasileiro apresentou o projeto de lei Combustível do Futuro, tentando atrair R$ 250 bilhões em investimentos. 

As iniciativas propostas incluem o aumento da mistura de anidro na gasolina (até 30% enquanto se aguarda a viabilidade técnica), o estabelecimento de um programa de combustível de aviação sustentável e a criação de regulamentos para atividades de captura de dióxido de carbono e armazenamento geológico, todas destinadas a descarbonizar o setor de transportes. 

Estimativa de safra 

Como evidenciado, a produtividade da cana-de-açúcar tem demonstrado melhorias em comparação com a temporada anterior. Fatores como um canavial mais jovem e condições climáticas favoráveis têm sido os principais impulsionadores desses resultados excepcionais e tudo indica que essa tendência positiva será mantida. 

Embora muitos modelos de previsão meteorológica tenham inicialmente indicado um agosto mais chuvoso do que o habitual, essa perspectiva não se concretizou completamente. Além disso, as projeções para setembro apontam para um clima mais seco. Isso sugere que as usinas poderão manter o ritmo de moagem excelente e que podemos esperar maior disponibilidade da região. 

A última safra que enfrentou forte El Niño foi a 2015/16, não à toa que o mercado esteja a utilizando como proxy para estimar o ritmo de moagem. Ainda assim, vamos nos aprofundar nos dados para entender se faz sentido ou não também usarmos este ano. 

Primeiro, qual é a quantidade de cana que o Centro-Sul costuma moer depois de agosto? Em uma média de dez anos, o Centro-Sul moeu 34,6% da sua cana total a partir de setembro, o que significa que mais de 65% já tinha sido feito até ao final de agosto. Durante 2015/16, ano de forte El Niño, a região conseguiu esmagar um pouco mais que a média durante o resto do ano, atingindo 35,2%. 

Usando matemática simples e considerando os números realizados até agora (406,6 milhões de toneladas esmagados), seria possível chegar a 622,2 milhões de toneladas se usarmos a média de dez anos, ou 627,4 milhões de toneladas se usarmos 2015/16 como proxy. 

Podemos considerar ambas as estimativas como uma boa faixa indicadora do rumo que a safra está tomando. É claro que o clima desempenha um grande papel na capacidade da região de atingir ou não esse nível – mesmo que haja cana suficiente para o fazer. 

Portanto, analisamos também os dias perdidos até o momento e sua correlação. Para verificar se um dia foi considerado perdido ou não, estabelecemos um limite de precipitação de 5 mm. Também consideramos a média entre algumas regiões-chave, como Ribeirão Preto (SP), São José do Rio Preto (SP), Mineiros (GO), Triângulo Mineiro (MG) e outras para estimar os dias perdidos do Centro-Sul. 

Olhando para os dias perdidos de 2023/24 até agora, estes mostraram uma correlação de 75% com a média de dez anos, enquanto apenas 47% com 2015/16. Estatisticamente, não faria sentido confiar apenas em 2015/16 como balizador. 

Portanto, sendo conservadores, decidimos tirar a média entre ambos, penalizando a falta de correlação entre 2015/16 e 2023/24. Ao final, os números de moagem de cana do Centro-Sul poderão chegar a 624,8 milhões de toneladas. Este número também está alinhado com a nossa revisão da produtividade dos canaviais. 

Incorporando os resultados de julho, nossos modelos mostram que é possível atingir uma produtividade acumulada da cana de 82,4 t/ha até o final de 2023/24. Com um aumento de área de 1,3%, todas as evidências apontam para 624,8 milhões de toneladas de cana. 

A maior disponibilidade também permite um maior mix, acrescentando 2 pontos percentuais em relação à nossa estimativa anterior, atingindo 48,5%. Essas mudanças, combinadas com uma concentração de açúcar total recuperável (ATR) de 139,7 kg/t levam a região a uma produção recorde de açúcar de 40,3 milhões de toneladas. Esta disponibilidade extra (cerca de 700 mil toneladas) será totalmente redirecionada para o mercado internacional. 

Esta revisão também afeta nosso primeiro olhar para 2024/25. Supondo que haverá alguma retração na produtividade, mas com clima positivo, o Brasil poderá continuar fornecendo até 40 milhões de toneladas de açúcar na próxima temporada. 

É claro que o Centro-Sul por si só não é suficiente para atenuar a ausência do Hemisfério Norte. A possibilidade de novas reduções para a Tailândia e de nenhuma exportação da Índia continua a apoiar a história altista, tanto para o açúcar bruto como para o branco. 

Os meteorologistas do governo dos EUA anunciaram na última quinta-feira, 14, que há mais de 95% de probabilidade de que as condições do El Niño persistam durante todo o inverno do Hemisfério Norte, que vai de janeiro a março de 2024, dando força adicional ao lado altista, empurrando ambos os contratos para seus níveis mais altos em meses. 

*Lívea Coda é coordenadora de inteligência de mercado na hEDGEpoint Global Markets 

 

hEDGEpoint (19/09) - via SIAMIG