Safras e planos – Por Luiz Carlos Corrêa Carvalho
Foi lançado o Plano Safra 2015/16, com características novas, inserindo setores antes esquecidos, em pleno momento de contenção de gastos e cortes nos orçamentos, aumentando em 20% os recursos. Ponto para a ministra Kátia Abreu!
Como isso teria sido possível?
Em primeiro lugar, além da capacidade da ministra, caiu a ficha do Governo sobre o efetivo papel do agronegócio na realidade brasileira. No entanto, para os detratores, trata-se de um tema recorrente e que segue, infelizmente, adicionado por quatro ingredientes complexos: ideologia, ignorância, insensatez e ilusão.
A ideologia, como figura, é o olhar fixo no retrovisor do carro do tempo, sem direito a retorno, em que a qualidade do condutor não se mede, pois não há caminhos à frente, o condutor e o carro sendo simplesmente levados pelo tempo, sem noção de rumo e sem compromissos.
A ignorância, afilhada da ideologia e flertando com a insensatez, não tem como chegar ou não sabe aonde ir. Alimentada por uma ideologia, segue cada vez com maior desconhecimento do mundo real. Daí a insensatez de nunca mudar o rumo da conversa. Trata-se de um monólogo, uma tentativa de persuasão, uma ilusão. A ilusão é um tipo de esperança de se estar contribuindo com a democracia e a sociedade.
Talvez, o País viva outra década perdida, mas o agronegócio não! Segue crescendo, alimentando pessoas e fornecendo energia, avançando em produtividade e sabendo o que quer. Não há ideologia, ignorância e insensatez. Há, talvez, ilusão. Não aquela que é a base do monólogo exaustivo, mas a esperança do entendimento pela sociedade brasileira e pelos poderes constituídos quanto ao relevante papel do agronegócio na economia. O Plano Safra é, talvez, uma esperança.
A medida do sucesso do agronegócio é a expansão da oferta de seus produtos, explicada claramente como resultado principalmente do aumento da produtividade, e não da expansão da área. O produto brasileiro do agronegócio atravessa os mares e compete na Ásia, por exemplo.
O fator mais importante para seguir produzindo com competitividade é a urgente necessidade do investimento público em logística e infraestrutura. Além deste fator, seguir investindo em pesquisa e inovação e estar receptivo ao capital internacional são condições tão importantes quanto a redução dos riscos de produzir, via seguro rural.
Assim, voltando ao Plano Safra, por que não o tornar Lei Agrícola? Por que ser somente anual? A ministra terá disposição e força para isso. E será evolução!
A safra, de novo, cresce. Os custos também! As ações do produtor, em produtividade, seguem ameaçadas pelos custos fora da produção, no caminho do consumo. O Brasil, como todos sabem, tem um dos menores suportes à agricultura, o que pressupõe correr todos os riscos de produzir. Mas, aprendeu muito com isso e tem seu plano de negócios baseado em produtividade!
Nas palavras do economista Martin Wolf, “o Brasil terá de repensar o seu caminho para o desenvolvimento, recorrendo à reindustrialização e às exportações industriais. Somente contar com o boom de commodities é um risco elevado”. Enquanto isso patina, o agronegócio segue carregando o andor.
Artigo originalmente publicado na Revista Agroanalysis, edição de julho/15.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho é Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)