São Martinho vence anuário no ramo de Bioenergia com resultados acima do esperado

São Martinho vence anuário no ramo de Bioenergia com resultados acima do esperado

A safra 2021/2022 dos canaviais brasileiros foi marcada por um dos piores períodos de estiagem prolongada no Brasil, com uma seca inclemente e duas fortes geadas consecutivas. As perdas, porém, não atingiram os produtores do centro-sul do país da mesma maneira. Apesar de todos os efeitos climáticos adversos, a São Martinho, um dos maiores grupos sucroenergéticos do país, registrou um “resultado histórico”, na avaliação de Fábio Venturelli, CEO da companhia, cujo resultado a credenciou como campeã do setor Bioenergia do anuário Valor 1000.

A receita líquida obtida pela empresa com a safra 2021/2022 foi de R$ 5,7 bilhões, o que gerou um lucro líquido de R$ 1,5 bilhão, valor que equivale a um crescimento de 60% em relação à safra 2020/2021 e uma margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações, na sigla em inglês) de R$ 3,14 bilhões, quase 55% acima do período anterior. “Foi uma grande conquista, um ano excepcional”, comemora Venturelli.

Até para os acionistas do grupo, os resultados foram além do esperado, revela o CEO, mas plenamente adequados às ações estratégicas adotadas. “Conseguimos manter o foco em tirar a melhor produtividade possível dos nossos canaviais, protegendo as nossas mudas nos momentos das geadas, valorizando o elemento humano da nossa companhia, investindo e implementando as inovações em todos os nossos processos e produtos, obtendo marcas expressivas nesse ambiente sustentável, do biocombustível, da energia elétrica, da energia de movimento. Isso nos proporcionou um desempenho acima do que registramos na safra passada”, afirma Venturelli.

Com quatro usinas – São Martinho, Santa Cruz e Iracema, no Estado de São Paulo, e Boa Vista, em Goiás –, o grupo São Martinho é um dos maiores do mercado brasileiro de sucroenergético, com uma produção de 24 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, 1,6 milhão de toneladas de açúcar e 1,4 bilhão de litros de etanol. É um grupo com valor de mercado de R$ 14,2 bilhões. No total, são 350 mil hectares de terras sob gestão do grupo, entre áreas próprias (70%) e de fornecedores agrícolas (30%), para a produção de cana-de-açúcar. A colheita hoje é 100% mecanizada.

As inovações tecnológicas, aliás, são um ponto forte da estratégia da empresa para enfrentar cenários adversos, tanto do ponto de vista climático, quanto dos efeitos econômicos e da pandemia da covid-19 na cadeia produtiva, explica Venturelli.
“Uma visão muito forte de inovação e adoção de tecnologias de agricultura de ultraprecisão nos permitiu, nesses momentos de crise, reduzir nossos custos de produção, especialmente as despesas com defensivos muito caros”, conta.

A São Martinho investe atualmente cerca de R$ 70 milhões na migração das redes de conexão privadas 4G para 5G, o que deve aumentar a cobertura dos 350 mil hectares de área de plantio sob sua gestão. “Com essa tecnologia, em vez de aplicações de defensivos realizadas por aviões agrícolas, podemos, por exemplo, utilizar drones para aplicação de produtos químicos em áreas determinadas, com extrema precisão”, diz o executivo.

Ainda com foco em tecnologia aplicada nos canaviais, a São Martinho acertou uma parceria com o Itaú BBA e a Corteva Agriscience, uma das maiores incubadoras de empresas da América do Sul, para criação do Cubo Agro, um centro de inovação voltado ao desenvolvimento de projetos com uso da tecnologia 5G para maior conectividade no ambiente agroindustrial. “Isso nos dá acesso a inúmeras startups que trabalham no agronegócio, em todo mundo, trazendo novidades e tecnologias transformadoras, tanto na parte agrícola como na parte industrial”, diz Venturelli.

O apoio do quadro de colaboradores, formado atualmente por 12,5 mil pessoas, também é muito importante nessa escalada de crescimento, segundo Venturelli. “Os investimentos que fizemos no desenvolvimento do nosso capital humano foi fundamental para o nosso sucesso”, diz ele. “Nossos colaboradores engajados em suas rotinas, de maneira resiliente e excepcional, promovem a construção do planejamento para os próximos anos, intensificando a inovação e identificando oportunidades”, acentua.

Venturelli é otimista em relação às próximas safras, mas, por ser a São Martinho um grupo de capital aberto, não pode antecipar números sobre desempenhos futuros, além dos números já divulgados. No primeiro trimestre do ano-safra 2022/2023, por exemplo, o grupo anunciou uma receita líquida de R$ 1,7 bilhão, um aumento de 29,2% em relação ao mesmo período da safra passada. O lucro líquido foi de R$ 221,6 milhões, 16,6% maior que em igual período da temporada 2021/2022.

Os planos do grupo são, obviamente, de expansão do seu portfólio de produtos, bastante diversificado. Em janeiro do ano que vem entra em operação a fábrica de etanol de milho, localizada na Usina Boa Vista, em Quirinópoilis (GO), com investimento de R$ 740 milhões. Terá capacidade de produção anual aproximada de até 210 mil metros cúbicos de etanol (210 milhões de litros de etanol); 150 mil toneladas de Distiller’s Dried Grains with Solubles (DDGS), um subproduto utilizado para alimentação de gado, e 10 mil toneladas de óleo de milho. “Com uma tecnologia que permite converter 500 mil toneladas de milho em 210 milhões de litros de etanol, será a primeira usina com escala de produção integrada a uma planta de álcool de cana-de-açúcar”, destaca Venturelli.

Para a safra de cana-de-açúcar 2023/2024, que começa em abril do ano que vem, também deve entrar em operação na Usina São Martinho, em Pradópolis (SP), o projeto de ampliação da unidade termelétrica, que utiliza bagaço de cana-de-açúcar como principal combustível. É uma nova etapa, que contempla instalação de caldeira e gerador e ajustes nas atuais instalações, fruto de um investimento de R$ 300 milhões, informa o CEO da São Martinho.

A nova unidade passará a contar com capacidade para gerar um excedente de energia elétrica a ser comercializado na ordem de 210 MW/h, contratada por 25 anos num leilão de biomassa realizado pelo Ministério de Minas e Energia. “Isso vem a se somar ao nosso parque de produção elétrica, que já é de 1 GWh, ou seja, vamos chegar a 1.2 GWh de energia produzida a partir do bagaço de cana, sem uso de combustíveis fósseis, suficiente para atender a área residencial de uma cidade como Campinas (SP), durante um ano inteiro”, comenta Venturelli. “É algo relevante para compor a massa energética brasileira”, afirma.

Para Gláucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), o cenário brasileiro de bioenergia é bastante promissor para os produtores brasileiros de cana-de-açúcar. “É um cenário positivo para os biocombustíveis, com ampliação do portfólio de produtos, do etanol, do biometano e de uma nova frente que se abre, que é a geração de bioeletricidade”, diz ela. “O Brasil tem biomassa, tem terras, tem clima e tem ciência”, afirma.


Valor Econômico