Será que o mercado já corrigiu o que precisava? - Por Arnaldo Luiz Correa

Será que o mercado já corrigiu o que precisava? - Por Arnaldo Luiz Correa

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento março/2017 cotado a 19.24 centavos de dólar por libra-peso, apenas 12 pontos de alta em relação à semana anterior. Os demais meses de vencimento fecharam praticamente inalterados. Foi uma semana de baixa atividade no mercado a tal ponto que, segundo um corretor nova-iorquino, olhar gelo derreter parecia mais excitante.
Os baixistas estão cantando vitória antes do tempo. Pipocam aqui e ali relatórios que mostram que o açúcar vai apresentar superávit global em dois anos, que a Índia vai produzir 29 milhões de toneladas e por aí vai. Vamos aguardar, pessoal. Janeiro e fevereiro normalmente são meses cruciais e sazonalmente mostram picos de preço. Acreditamos ser menos provável ver preços acima de 24 centavos de dólar por libra-peso, no entanto, é bom que fiquemos atentos ao começo da safra 2017/2018. O canavial está envelhecido, desgastado, com menor trato cultura, falta de investimento e, não menos importante, um crescente número de pesquisadores colocando o próximo ano com uma safra menor que 550 milhões de toneladas. Talvez valha a pena comprar uma call (opção de compra) fora-do-dinheiro que será regiamente valorizada se os preços subirem em conjunto com a volatilidade. O outro lado da moeda é que os fundos fizeram muito dinheiro com o açúcar este ano e podem sim sair de suas posições remanescentes e colocarem o dinheiro em outros mercados que sinalizam maior valorização.
E por falar em fundos, os duas principais soft commodities, café e açúcar, caíram bastante das últimas semanas. Os fundos estavam bastante comprados nas duas. Devem ter resolvido de maneira orquestrada colocarem o lucro no bolso e partirem para novos desafios. Petróleo, quem sabe?
A política de transparência na formação de preços do combustível introduzida pela Petrobrás na administração de Pedro Parente começa aos poucos dar sinais de sua importância. Os preços da gasolina para o consumidor passam a seguir de perto as variações da commodity no mercado internacional e seu valor correspondente em reais. Logo mais, o mercado vai perceber que essa atitude da Petrobrás vai trazer bons frutos para o setor sucroalcooleiro, pois o etanol estará mais competitivo e arbitragem com o açúcar mais estreita. Um longo caminho ainda precisa ser percorrido para que o etanol se transforme em commodity na acepção da palavra, mas uma marcha de mil quilômetros começa com um primeiro passo. Em tempo, o preço médio do litro da gasolina na bomba, em 100 países consumidores, é de US$ 0.99. No Brasil, o preço justo da gasolina na bomba deveria ser R$ 3.1664 por litro.
O Brasil deve importar etanol no ano que vem uma vez que as contas da oferta e demanda projetadas do produto não fecham.
Se você é corajoso o bastante, uma estratégia que pode ser boa alternativa para compradores e vendedores: trata-se do straddle que consiste numa operação em que se vende ao mesmo tempo uma call (opção de compra) e uma put (opção de venda) do mesmo preço de exercício. Se tomarmos o preço de exercício de 18.50 centavos de dólar por libra-peso no maio/2017, capturaríamos cerca de 220 pontos de prêmio. Na expiração, você estará ou comprado ao equivalente a 16.30 centavos de dólar por libra-peso ou vendido ao equivalente a 20.70 centavos de dólar por libra-peso. Plenamente gerenciável. Só precisa ter uma boa relação com seu diretor financeiro.
Recebemos vários e-mails apoiando a ideia de que o Consecana necessita uma ampla reforma. Um dos leitores sugeriu que “a usina poderia disponibilizar para o fornecedor de cana a fixação de preço da parte relativa ao VHP”. Por exemplo: fornecedor com 100.000 toneladas de cana, poderia fixar 28.000 contra a tela de NY no mês vigente, assim como o câmbio futuro”. Só para lembrar que 28% é o percentual de cana produzida no Centro-Sul destinada a exportação. 
A sexta estimativa de fixação de preços de exportação das usinas no mercado futuro de açúcar em NY, para a safra 2017/2018, mostra segundo o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, que até o final de novembro de 2016 pouco mais de 9.4 milhões de toneladas já haviam sido fixadas (35.6% da exportação estimada). O preço médio apurado foi de 17.34 centavos de dólar por libra-peso. O valor médio ajustado de fixação, considerando as NDFs (contratos a termo de dólar com liquidação financeira) é estimado em R$ 1.548,49 por tonelada, ou 67.41 centavos de reais por libra-peso, sem prêmio de polarização.
Um executivo do setor estava dando uma entrevista para um jornalista de um grande veículo. Perguntado sobre o que achava da safra de 29 milhões de toneladas de açúcar prevista para a Índia para o ano que vem, ele dispara: “aqui na empresa, onde a gente trata cana como se fosse um bonsai e ainda assim a gente erra nas previsões que fazemos, imagina confiar numa previsão dessas sobre a Índia, faltando tanto tempo, onde tem produtor que entrega cana de bicicleta”. O jornalista parou de escrever.