No último comentário do ano passado dissemos que 2016 seria um bom ano para as usinas, devido principalmente ao extraordinário valor em reais que estavam conseguindo fixar seus açúcares para a exportação do ano safra seguinte (no caso este que está em curso). E não há como negar que 2016 foi realmente um ano muito positivo para o setor.
O preço médio de fixação das usinas para a safra 2016/2017, por exemplo, foi de R$ 1,218 por tonelada, 28% acima do preço médio alcançado na safra 2015/2016. A média de preços do açúcar no mercado interno também experimentou um acréscimo de 53%, saindo de R$ 46,66 por saca no ano passado, livre de impostos, contra R$ 71,32 por saca este ano (dados até 9 de dezembro). Etanol anidro e hidratado tiveram preços médios de R$ 1,6702 e 1,8547 por litro, respectivamente, contra R$ 1,3540 e 1,4361 por litro no ano anterior, portanto, um acréscimo médio de 25%. Podemos destacar também o aumento no consumo de anidro em pouco mais de meio bilhão de litros apesar de o consumo total de combustível tenha sido reduzido em 1,4 bilhão de litros. E também da melhora da saúde financeiras das usinas, inclusive com redução do endividamento líquido entre R$ 3 e 5 bilhões.
O que nos aguarda o ano de 2017? Acreditamos que os preços em reais por tonelada não serão tão remuneradores quanto foram os preços negociados em 2016. Será muito difícil repetir a máxima de quase 1,762 reais por tonelada que vimos em 5/outubro (combinação de NY a 23.81 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a R$ 3.2212). No entanto, parece haver consenso de que o açúcar no mercado internacional ainda vai negociar a preços melhores do que agora em centavos de dólar por libra-peso (lembrando que a média da 2017/2018 em NY foi de 17.59 centavos de dólar por libra-peso).
É bom lembrar que desde o pico de preços experimentado pelo mercado no início de outubro, o vencimento março de 2017 despencou 600 pontos, o maio/2017 caiu 500 pontos, o julho/2017 caiu 425 pontos, o outubro/2017 caiu 360 pontos e o vencimento março de 2018, caiu apenas 300 pontos.
Querer que o mercado repita os quase 24 centavos de dólar por libra-peso? Difícil hein? Vamos precisar de uma tempestade perfeita para que isso ocorra. Nossa projeção, recebida em detalhes pelos clientes da Archer Consulting, é de preços médios ao redor de R$ 1,400 por tonelada FOB Santos equivalente para o açúcar. E está muito bom.
Do lado dos altistas estão alguns bons argumentos: o primeiro, que o mercado ainda não absorveu a possiblidade de a safra 2017/2018 ser bem inferior aos 580 milhões de toneladas de cana. Tem gente com fortes razões para acreditar que a quebra pode ser grande. Segundo, porque alguns analistas acreditam que, com o governo Trump, de forte característica belicista, o petróleo pode alcançar patamares superiores aos 70 dólares por barril durante o curso do ano. Terceiro argumento vem da Europa: o número mágico que alguns usam de 500 euros por tonelada para o açúcar branco como um piso, coloca o açúcar bruto no nível mínimo de 19.50 centavos de dólar por libra-peso. Quarto argumento, o fato de a produção na Índia ser inferior ao que se esperava, abrindo a possibilidade daquele pais importar açúcar no próximo ano. Quinto argumento: não me canso de repetir que a administração competente de Pedro Parente tem sido primordial para o setor sucroalcooleiro pois trouxe transparência na formação de preço da gasolina e, portanto, a arbitragem entre o etanol e o açúcar será muito mais suscetível a um eventual aumento no preço do petróleo no mercado internacional. Em outras palavras, o mix pode mudar sim!!
Do lado dos baixistas, também existem bons argumentos. Primeiro, que a percepção do mercado físico é de pasmaceira geral, sem nenhum problema de oferta do produto. Segundo, a fraqueza do real refletindo a crise política e econômica que o pais atravessa. Terceiro, ao aumento do mix de açúcar para a próxima safra, embora a diferença de preços entre o açúcar e o etanol tenha se estreitado. Quarto, os fundos liquidaram bastante, mas ainda estão comprados em bom volume. Será que vão se desfazer dele no início do ano?
A gestão eficiente de risco continua sendo a melhor receita para garantir bons resultados em 2017. Não acredite em gurus. Tenha disciplina e foco. Não existe almoço grátis nas estratégias mirabolantes que alguns vendedores mais ambiciosos tentam lhe passar. Monte seu plano estratégico para a gestão de preços e seja disciplinado.
Infelizmente não consegui sorver o Blue Label que espera impacientemente na prateleira do meu bar aguardando a comemoração por conta da prisão de Lula. Se em 2016 o Brasil se livrou da quadrilha capitaneada pelo falecido partido dos trambiqueiros, as delações de executivos de empresas envolvidas até o pescoço em todo o tipo de crimes, mostram que o Brasil ainda tem que percorrer um longo caminho antes de se livrar definitivamente dessa corja de empresários e políticos bandidos, vagabundos, corruptos, estelionatários e ladrões.