Sob Dilma, dívida do setor sucroenergético dispara - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Sob Dilma, dívida do setor sucroenergético dispara - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Com o dólar atingindo 3.2600 nesta última sexta-feira, não poderia se esperar outra reação no mercado futuro de açúcar que não fosse uma enorme desvalorização. Faz sentido que seja assim. Como temos falado quase que à exaustão nesse espaço, o que interessa para as usinas capitalizadas e com gestão e governança, é o valor em reais por tonelada. E esse tem alcançado níveis bem acima do custo médio de produção das usinas. Se levarmos em consideração o NDF, contrato a termo de dólar que a usina negocia objetivando que seu vencimento coincida com o embarque do açúcar para a exportação, o ganho ainda é maior. Essas operações estruturadas contribuem para que o mercado caia lá fora e os fundos acrescentem mais lenha na fogueira, potencializando a queda. Isso vai continuar assim. Pense no limite/suporte como sendo o equivalente a R$ 880 por tonelada. O efeito Dilma-Petrobrás-Dólar é uma outra bola em jogo.
O fechamento do primeiro vencimento do contrato futuro de açúcar em NY, o maio/2015, foi de 12.70 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 74 pontos na semana, ou o equivalente a 16.30 dólares por tonelada. A taxa de câmbio, no entanto, negociava a 3.2600 reais no fechamento do mercado de açúcar. Assim, o ajuste no encerramento equivale a R$ 950 por tonelada. Na semana anterior, NY e câmbio fecharam, respectivamente a 13.44 centavos de dólar por libra-peso e 3.0495 reais, ou R$ 940 por tonelada. Resumindo, o mercado fechou em alta em reais.
As commodities, em geral, desvalorizaram-se bem nesse ano. No acumulado até sexta-feira, o café já caiu quase 23% em 2015. Suco de laranja, 17.5% de queda. Petróleo o mesmo percentual e o trigo 14.5%. O açúcar fechou dezembro/2014 a 14.52 centavos de dólar por libra-peso portanto desvalorizou-se apenas 12.5%. O real, por sua vez, derreteu 18.5%.
Há três semanas demonstramos aqui, no comentário “Uma Tungada de Bilhões” quanto o setor sucroalcooleiro havia perdido nos quatro anos do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Chegamos à imoral e nefasta soma de 67.1 bilhões de reais divididos entre 32.6 bilhões no ruinoso subsídio sustentado pelo suor do setor (o PT, como se sabe, adora cumprimentar com o chapéu alheio) durante anos de preços artificialmente baixos da gasolina, e R$ 34.5 bilhões referentes ao prejuízo direto no fluxo de caixa do setor por perda de mercado do etanol e de sua receita equivalente.
Atendendo ao pedido de alguns leitores, no entanto, faltou incluir o aumento do endividamento do setor, que fazemos agora. Embora a gestão e governança das usinas circunscrevam-se aos seus executivos, e todos sabemos que existiram planos de voo não devidamente calculados por parte da direção de algumas delas, que privilegiou o ego do acionista em detrimento de um planejamento econômico-financeiro mais substancioso, o fato é que o governo atrapalhou em alto grau o setor dando sinais tortuosos para aqueles que estavam expandindo suas atividades.
 
Em março de 2012, num estudo apresentado pelo diretor comercial de açúcar e etanol do Itaú BBA, Alexandre Figliolino, a dívida do setor atingiu R$ 48 bilhões, “tendo crescido R$ 5 bilhões em relação ao ano anterior”, segundo ele. O link está aqui https://www.itau.com.br/setorsucroalcooleiro. Ou seja, em 2011 a dívida era de R$ 43 bilhões. Hoje, com o dólar atingindo os píncaros, estimamos que a dívida nesta última sexta-feira tenha alcançado R$ 85.4 bilhões, praticamente o dobro.
Esse é apenas o estrago em um setor da economia. Evidentemente, o cálculo não inclui os milhares de empregos diretos e indiretos que deixaram de ser criados pela falta de planejamento e ausência de transparência na formação de preços dos combustíveis, apenas para citar um ponto. Há cinco anos, por exemplo, estimando que o etanol se manteria como principal combustível a alimentar a crescente frota de veículos, prevíamos que o Centro-Sul iria moer em 2015/2016 mais de 700 milhões de toneladas de cana, assumindo que os investimentos ocorreriam e que novas usinas seriam construídas.
A incompetência de Dilma traduzida em números salta aos olhos e deixa-nos todos nós, cidadãos de bem e pagadores de impostos, aparvalhados. Teria sido bem melhor para o Brasil se a súcia que comanda o país não apenas destruindo setores produtivos e competentes, mas distorcendo os valores éticos da sociedade contaminada pela bandidagem que grassa na política brasileira, ao invés de terem lido Karl Marx, tivessem trocado pelos irmãos Marx. O resultado teria sido mais cômico e menos trágico

Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.