Não fosse o Proálcool, o setor canavieiro certamente não teria importância econômica no Brasil, resignando-se a manter o consumo doméstico, apenas. O mercado do petróleo, em épocas passadas, nos levou a um acerto estratégico.
Somos modelo mundial no uso de combustível alternativo. Na esteira da sensatez, foi a alternativa para equilibrar a balança da dívida externa brasileira em situação crítica devido a importação de petróleo e, na atualidade, como alternativa desse mesmo petróleo para mitigar os efeitos da poluição ambiental, por ele causados. E, assim, expandiram-se os canaviais e a economia derivada da cana.
Melhorias tecnológicas foram implantadas e um novo parque industrial reforçado pela geração da bioeletricidade. No âmbito financeiro os produtores foram driblando dificuldades, quase sempre causadas pelo mercado açucareiro.
É justamente no comércio de açúcar que ocorre o erro estratégico, pela falta de associativismo econômico; uma organização capaz de aglutinar o comércio exterior do nosso produto numa única entidade de atendimento global.
O mal histórico vem de quando os produtores se aliaram na produção de açúcar de baixa qualidade, de forma a exportar no modelo de commodities. A onda da invenção do VHP, que parecia ser a salvação do açúcar foi, na verdade, uma condenação tecnológica e de mercado. Dessa forma, a ponta do consumo, onde o produto possui maior valor agregado, ficou desguarnecida, abrindo oportunidade para os refinadores de outros países. Isso propiciou, também, a oportunidade de tradings internacionais na comercialização do açúcar brasileiro.
O engodo das tradings é que elas detêm perfeito controle na remuneração interna, subjugando o produtor às suas políticas de preço consequentes com a variabilidade do dólar (quer dizer, com a desvalorização do real). Há uma manipulaçãosincronizada nas bolsas de futuros para o estabelecimento de preço de compra, mesmo quando o mercado sinaliza déficit de oferta. No fechamento do pregão de 30 outubro os preços eram negociados por: Refinado US$ 340,60/t e VHP US$ 273,59/t, ou seja, uma diferença de quase 25%.
Como nossos custos de produção (principalmente mão de obra e energia) são muito menores que os dos refinadores no exterior, parte dos consideráveis 25% fariam diferença na lucratividade, e fluxo financeiro, das Usinas.
A recuperação das Usinas brasileiras, considerando o atual modelo de produção e comercialização, relativamente ao açúcar, não aliviará a crise, nem propiciará crescimento, por muitos anos. Como o Brasil é um player de grande importância no mercado internacional, qualquer movimento de desvalorização do real, o que aconteceu nos últimos anos, acaba por mudar o referencial de remuneração, submetendo os produtores ao eterno preço de barganha. Movimentos começam a direcionar investimento para flexibilizar mais as plantas de produção, de forma a ampliar a capacidade de oferta de etanol. Calculamos que o valor de inflexão para açúcar, mantendo a cotação do dólar no atual patamar, deveria ser de US$ 15,00 ¢/lb para manter a competitividade com o etanol, razoável para remunerar a indústria e o fornecedor agrícola.
Países como a Índia estimulam a exportação do açúcar com preços entre US$ 13,00 ¢/lb a US$ 14,00 ¢/lb. Logo, com produto de baixa qualidade os brasileiros sempre terão de competir com produtores mundiais de economias subdesenvolvidas
neste setor. Não podemos contar simplesmente com mais investimentos para o mesmo – já vimos isso no passado recente.
Caso a organização dos brasileiros fosse diferente, ela teria poder na oferta do produto de qualidade para consumo final a nível mundial, influenciando na valorização mais coerente do mercado e mais compatível com produtores de regiões subsidiadas,
onde os custos não competem.
Sonho de reconstrução de um setor importante, garantidor de energias renováveis,gerador de renda e de interiorização do desenvolvimento, mas que precisa acertar estrategicamente.