Tecnologia brasileira para mudar o mundo - Por Paulo Hartung

Tecnologia brasileira para mudar o mundo - Por Paulo Hartung

Enquanto alguns negam as mudanças climáticas, muitos optam por trilhar um caminho de criação de valor e investem para ser parte da solução desse desafio global. Nesse caminho, o Brasil tem, dentro de casa, tecnologia, conhecimento e recursos naturais para ser protagonista da bioeconomia.

São empresas que podem mudar o status do País na engrenagem econômica mundial, com um portfólio inovador de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar ou as árvores cultivadas, que ajudarão a reduzir as emissões e a diminuir impactos ambientais.

Entre as inovações brasileiras que podem mover um novo mundo, podemos citar a transição energética, de uma economia baseada em combustíveis fósseis para a energia renovável. O País é líder nessa tecnologia e já está fazendo mais, desenvolvendo biocombustíveis produzidos a partir de biomassa renovável, com grande potencial para substituir boa parcela de derivados de petróleo.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), cerca de 45% da energia e 18% dos combustíveis consumidos no Brasil já são renováveis. No resto do mundo, 86% da energia vem de fontes fósseis. Pioneiro no uso de biocombustíveis, o Brasil alcançou uma posição almejada por muitos países. Já a energia gerada pela biomassa responde por 6% da matriz nacional, o que coloca o País mais uma vez na vanguarda mundial. Em comparação com os combustíveis fósseis, a biomassa gera menos emissões de gases de efeito estufa.

Temos também o etanol, o biocombustível de base florestal e o etanol de segunda geração que a Raízen já materializou, tornando-se uma das poucas plantas do mundo a produzi-lo estavelmente em escala comercial, em Piracicaba (SP).

Chamado de etanol 2G, este é um combustível obtido pela fermentação controlada e posterior destilação de resíduos vegetais, como o bagaço da cana-de-açúcar. Esse novo processo de produção de etanol consegue reduzir a formação de dejetos e aumenta a eficiência da empresa.

A Suzano, a maior empresa de celulose de mercado do mundo, em seu recém-apresentado plano de longo prazo fala numa arrojada expansão de negócios, com atuação em bio-óleos, biocombustíveis e bioquímicos. O movimento é de oferecer substitutos de parte dos derivados de petróleo por celulose em materiais compostos, os chamados compósitos. Além disso, quer aumentar em 50% a venda de energia para o sistema nacional, produzida, entre outras fontes, pela queima do licor negro, aproveitando esse subproduto da indústria de papel e celulose.

O setor de árvores cultivadas brasileiro, por sinal, é um segmento que soma positivamente para o enfrentamento das questões climáticas. Só a área cultivada de pinus, eucalipto e outras culturas no Brasil estoca um volume de CO2eq superior ao que o País emite num ano.

O potencial de transformação por meio da biotecnologia faz das fibras de base florestal o insumo do futuro. Um grande passo é a substituição do poliéster, de fonte fóssil, por fibras têxteis de celulose, como a viscose, e novas tecnologias como a celulose microfibrilada (MFC). A Suzano vê aí um mercado potencial de US$ 9 bilhões por ano.

Esses são exemplos de setores que rompem com um histórico papel brasileiro de exportar produtos com pouco valor agregado e importar tecnologia. São inovações que podem colocar o Brasil e o mundo em outro patamar.

Para a concretização e ampliação desses projetos serão fundamentais políticas econômicas e ambientais efetivas, como o mercado de carbono. A criação desse mercado, em caráter global, é uma das premissas do Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário.

Além dessa negociação, vários países e Estados estão implementando alguma forma de precificação de carbono, incluindo a União Europeia, a China, e o estado norte-americano da Califórnia. Essas iniciativas movimentaram US$ 82 bilhões em 2018. No Brasil existe um estudo em andamento, PMR – Partnership for Market Readiness, uma parceria entre o Ministério da Economia e o Banco Mundial.

Ponto de atenção é a criação de taxa de ajuste de fronteira (carbon adjustment taxes), uma espécie de barreira financeira na importação para produtos de países que não têm metas de redução de emissão. A Europa já sinalizou querer seguir por esse caminho.

Essas discussões e a busca por redução das emissões de gases de efeito estufa devem ter impacto direto para o Brasil. E vale notar que até mesmo empresas de finanças estão aderindo ao movimento, como a BlackRock, que anunciou compromisso de descarbonização.

Consumidores estão mudando hábitos, nações se mobilizam, o mundo corporativo vem se transformando. Este é o momento para o Brasil assumir seu papel de liderança nessa nova fronteira. Que as políticas públicas nacionais e os nossos acordos internacionais façam deste um tempo de oportunidades, e não de riscos e atrasos. A vanguarda produtiva mantém essencial e forte conexão com a sustentabilidade. Por potencialidades e experiências concretas, nosso lugar é na dianteira, ajudando a definir os padrões de uma nova revolução industrial, a bioeconomia.

Paulo Hartung é economista, presidente executivo indústria brasileira de árvores (IBÁ)