Transição energética abre oportunidade para Brasil exportar biocombustíveis, diz Shell

Transição energética abre oportunidade para Brasil exportar biocombustíveis, diz Shell

Com um ecossistema de pesquisa e produção avançando em torno da bioeconomia, o Brasil poderá ter uma grande vantagem em oportunidade em exportação de biocombustíveis e outros produtos com a transição energética, avalia o diretor executivo de tecnologia e vice-presidente global da Shell, Yuri Sebregts.

“Tanto biocombustíveis como outros bioprodutos serão uma parte importante da solução para a transição energética. E esses bioprodutos continuarão a ser uma oportunidade em exportação para o Brasil em mercados internacionais. Sempre haverá países interessados em comprar bioenergia”, estima ele.

 

A multinacional já dedica 41% de suas atividades na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) globalmente à transação energética. No Brasil, investe cerca de US$ 100 milhões por ano em P&D com mais de 20 parceiros. Entre os projetos há uma unidade para produzir hidrogênio a partir do etanol, em São Paulo, e também a produção de etanol a partir do agave (suculenta gigante), na Bahia.

“Os trabalhos, no passado, eram mais voltados para melhorar as operações em óleo e gás. Mas a transição energética está abocanhando uma fatia crescente em pesquisa” afirma Yuri Sebregts.

 

Em meio ao processo de transição – com crescente investimento na produção de energia vinda de fontes sustentáveis para reduzir as mudanças climáticas –, as grandes petroleiras também estão em transformação, ampliando sua atuação nessa direção e avançando como empresas de energia.

A guinada na área de transportes e mobilidade, além da eletrificação da frota, amplia a demanda por biocombustíveis e hidrogênio renovável.

 

Pesquisa no Brasil

No Brasil, as companhias que atuam no setor de óleo e gás têm de investir uma fatia de sua receita bruta de produção em pesquisa, como determina a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Depois da Petrobras, a Shell é a companhia que mais investe em P&D no setor. É por essa via que está construindo, por exemplo, uma planta-piloto para produção de hidrogênio verde no Porto do Açu, no Norte Fluminense.

 

O foco central está em encontrar soluções inovadoras para reduzir as emissões de CO2 para a atmosfera. No fim de agosto, reportagem da agência Bloomberg mostrou que a companhia reduziu sua meta de investimento anual em sequestro de carbono.

Sebregts, porém, afirma que o compromisso da Shell de chegar a 2050 com zero emissões está mantida. E avalia que a descarbonização já conta com tecnologias competitivas, em geral em economias desenvolvidas

“Enquanto os processos de alta queima de gases (com combustíveis fósseis) persistirem, o melhor a fazer é captura de carbono, armazenando CO2 no solo. Dependendo de como é feito, o processo não é caro, depende dos recursos disponíveis. Mas é claro que se a meta for tornar todo o sistema de energia neutro haverá um custo envolvido”, afirma.

 

De novo, diz o executivo, as soluções serão diferentes em cada parte do mundo. Veículos elétricos podem ser a opção para economias desenvolvidas, enquanto biocombustíveis podem ser mais eficientes em outros lugares. E a oportunidade para o Brasil reside aí.

 

Novas soluções

Entre as soluções estudadas pela Shell juntamente com instituições parceiras no Brasil está a produção de biocombustíveis no semiárido do país. O foco está em utilizar o agave como fonte de biomassa para produção de etanol e biogás, por exemplo.

Uma planta-piloto está sendo construída no sertão baiano, em projeto em parceria com a Unicamp e o Senai Cimatec, que terá R$ 100 milhões em aporte da companhia. É uma solução que, ao mesmo tempo, colabora para a captura de carbono, pelo plantio em escala do agave, diz Sebregts.

 

Outra frente é a primeira unidade para produzir hidrogênio renovável a partir do etanol, que ficará no campus da USP, em São Paulo, onde está localizado também o Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), implementado por Shell e Fapesp.

 

O projeto na USP traz: a Hytron, que desenvolveu a tecnologia para extrair hidrogênio do etanol; a Raízen, empresa brasileira de energia que atua em áreas como açúcar e etanol; e o Senai Cetiqt como parceiros. Com R$ 50 milhões em aporte, a unidade deve entrar em operação no segundo semestre de 2024 e fornecerá hidrogênio para abastecer ônibus que vão circular dentro do campus.

O hidrogênio é uma solução em grande parte voltada para a indústria, maior setor dentre os clientes da Shell após o de transporte.

“Também trabalhamos em como estocar e transportar hidrogênio, que são desafios. E avaliamos como usar o etanol como forma de transportar o hidrogênio, porque a existe hidrogênio na molécula do etanol que é fácil de armazenar e transportar”, destaca ele, citando que no Brasil desse projeto está em clientes industriais.

Um potencial novo parceiro da companhia no Brasil é o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), integrando projeto que estuda o uso de nanobiotecnologia para recuperar áreas degradadas da região amazônica.

A experiência utiliza sensores em castanheiras da Amazônia que vão fornecer dados sobre o crescimento e a absorção de carbono por essas árvores em tempo real a partir do uso da arbolina nesse cultivo. As startups Krilltech, detentora da nanotecnologia, e a Treevia, de monitoramento florestal, também integram esse núcleo.

 

O Globo (16/10)