Um alerta sobre a ampliação de novas variedades- teste

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Engº Agrº Dib Nunes Jr.

 

A grande vantagem da ciência é a forma democrática de como é conduzida, que permite divulgar livremente as conclusões, bem como levantar novas hipóteses para serem pesquisadas nas diversas áreas de investigações científicas.

 

A aplicação prática dos conhecimentos adquiridos em pesquisas exige muita inteligência e bom senso, pois quando o avanço tecnológico é reportado é preciso saber em que condições ele foi obtido e como este progresso pode ser reproduzido na prática.

 

Assim é para as pesquisas com animais, seres humanos e agricultura, onde o comportamento observado nas pesquisas é aplicado e tem suas reações analisadas na prática.

 

Na agricultura não é diferente: a pesquisa estuda novas técnicas e novas variedades e depois dissemina para os agricultores, sempre no sentido de aumentar a produtividade agrícola e minimizar os riscos que a própria atividade impõe, tais como: intempéries climáticas, pragas e doenças.

 

A pesquisa canavieira, principalmente com melhoramento genético, trouxe, nas últimas décadas, ganhos crescentes de produtividade que praticamente “seguraram” os aumentos nos custos de produção e as crises de preços pelas quais passou o setor ciclicamente. Os ganhos de produtividade desde o início do Proálcool na década de 70, foram da ordem de 30 toneladas de cana por hectare, obtidos com as melhores técnicas de plantio, tratos culturais e, principalmente, com a substituição de variedades comerciais por novas variedades mais ricas, produtivas, adaptadas a diversos ambientes de produção e resistentes às principais doenças da cultura. Por isso, é recomendável estar sempre avaliando as variedades cultivadas, observando-as nos ambientes de produção representativos de cada localidade.

 

É verdade que muitas variedades que nos experimentos vencem os padrões comerciais, quando chegam ao campo, não repetem a sua performance, despertando a desconfiança dos mais céticos. Antes da derradeira ampliação de uma nova variedade é necessário realizar os Testes Locais para Validação do material, confrontando estes novos cultivares com as variedades mais plantadas na região.

 

Desta forma, o risco pode ser mitigado e as novas variedades serão selecionadas de acordo com sua performance regional.

 

A partir dos estudos de validação com novos cultivares, pode-se ampliar, com maior segurança, para os ambientes específicos e condições próprias de cultivo.

 

Quantos fazem os estudos de validação antes da ampliação?

 

Hoje sabemos que os programas da Ridesa e do IAC, por exemplo, se preocupam com esta última fase da seleção de variedades. Esta fase deve ser desenvolvida nas usinas e nas terras de produtores independentes. Para tanto, as empresas precisam manter um profissional especializado para dar suporte a estes estudos e ficar em contato permanente com as instituições de pesquisa, a fim de reforçar as informações obtidas nos diversos ensaios de validação.

 

Com a somatório de dados de diversas origens, pode-se traçar o correto perfil do novo material e saber como encaixá-lo no manejo varietal da empresa.

 

Por outro lado, a maior ou menor suscetibilidade das variedades às doenças, tem a ver com: aumento da quantidade de inóculos no ambiente, condições climáticas, “stress da planta”, idade da cultura no momento de maior agressividade da doença, mecanismos disseminadores da doença e o próprio nível resistência da variedade.

 

Já perdemos várias boas variedades por doenças, exemplos disso estão registrados em nossa história recente, dentre os quais podemos citar: o carvão na NA56-79, a ferrugem marrom em variedades como RB83 5486 e SP79-1011, o amarelinho em SP71-6163 e recentemente, a ferrugem alaranjada na RB72 454 e SP81-3250

 

Algumas variedades moderadamente resistentes poderão, em certas condições ambientais, mudar de patamar de suscetibilidade, mas, de maneira geral, manterão comportamento intermediário. O risco de se cultivar estas variedades, vai depender das citadas condições climáticas para ocorrência da doença. As doenças foliares, hoje, podem ser controladas com ótimos fungicidas, viabilizando assim o seu uso, mas outras, como o Carvão e o Coletotrichum, só se combate com variedades resistentes.

 

Vale ressaltar que, a RB86 7515, que ocupa a maior área cultivada no país, está demonstrando queda acentuada produtividade em soqueiras, isto certamente, vai acelerar sua substituição. Muitas áreas desta variedade colhidas em plena safra, nas regiões mais secas e terras mais fracas, do terceiro corte em diante, evidenciam estes sintomas. Quando isto começa a ser registrado nos controles de produção da usina, acende-se a luz amarela, necessitando redobrar a atenção, pois indica uma menor longevidade de soqueira. A RB86 7515 ainda ocupa mais de 20% das áreas com cana no Centro-Sul do Brasil e a queda de produtividade demonstrada, poderá representar perdas muito significativas ao setor. Precisamos reduzir o seu plantio urgentemente. Nenhuma variedade deve exceder 15% a 20% da área de produção.

 

Para acertar na ampliação de um novo material, basta implantar o sistema de ensaios locais de validação, usando critérios técnicos suficientes para crer nos resultados obtidos e não ter insegurança de ampliar as novas variedades ou ampliá-las “no escuro”.

 

Quando as novas variedades se expandem na grande lavoura, a pressão sobre elas aumenta e algumas delas sucumbem à fatores não mensuráveis durante as fases de seleção, tais como: compactação por máquinas, patógenos de solo, excesso de palha, arranquio de soqueiras pelas máquinas e presença de alumínio em profundidade.

 

Uma variedade leva 8 a 10 anos para chegar aos viveiros de uma usina e mais 2 a3 anos, em média, para atingir uma porcentagem significativa da área. Portanto, há tempo suficiente para realizar avaliações necessárias. Para tanto, existem os especialistas nas usinas, consultores e pesquisadores. O alerta está dado: validar o material antes de expandi-lo, é fundamental para se obter ganhos contínuos de produtividade e ajudar as empresas canavieiras a se tornarem mais competitivas.

 

Dib Nunes Jr. é CEO do Grupo IDEA e idealizador do Grande Encontro de Variedades de Cana que chega a sua 14ª edição em 2020.

O evento será realizado online, em formato de curso online, com 15 palestras sobre o tema, 1 mês para ser completado, com dinâmicas de aprendizado junto às palestras, materiais complementares e de apoio, certificado de participação e prêmios de verdade.