Um fracasso sem explicação - Editorial Diário do Comércio

Um fracasso sem explicação - Editorial Diário do Comércio

Nos anos setenta do século passado, na fase mais aguda da crise do petróleo e quando se imaginava que as reservas globais do combustível fóssil estivessem próxima de se esgotar, o Brasil saiu à frente. Resgatou e renovou uma tecnologia antiga, viabilizando a utilização do etanol como combustível para veículos leves. Um sucesso imediato e que, pela primeira vez, tornou disponível uma alternativa ao petróleo, para utilização em larga escala. O desenvolvimento de motores e a utilização do etanol, que chegou a representar mais de 90% do consumo em veículos novos, foi bastante rápida, num movimento sem precedentes e que parecia colocar o país numa posição de liderança com relação à dependência do petróleo.
Foi também um ciclo rápido. As dificuldades de suprimento, diante do aumento da demanda e, simultaneamente, a diminuição do impacto representado pelo choque do petróleo, foi aos poucos reduzindo a importância do Proálcool até praticamente anulá-la nos anos noventa, ainda no século passado. Mais tarde, e agora com foco principalmente nas questões ambientais, a opção pelo etanol voltou a ganhar força. A tecnologia foi aperfeiçoada, os motores ganharam mais eficiência e surgiram, mais uma vez como inovação brasileira, os motores bicombustíveis, capazes de utilizar tanto etanol quanto gasolina, que hoje estão presentes em quase a totalidade dos veículos novos. Imaginou-se que o etanol, ou combustível verde, produzido no Brasil poderia abastecer o mundo.
 

Mas o entusiasmo predominante na virada do século não se fez acompanhar dos investimentos demandados na área de produção de cana-de-açúcar e de moagem, ao mesmo tempo em que aos produtores não foram oferecidas garantias suficientes. Na prática o etanol saiu da pauta, ao mesmo tempo em que, com o crescimento da frota, aumentava o consumo de gasolina, num desequilíbrio que hoje alcança proporções impensáveis. O país importa gasolina e, pior, ao invés de transformar-se em grande exportador de etanol, tornou-se também importador. Dados mais recentes, relativos às projeções de importação do combustível verde, indicam que no próximo ano o Brasil deverá dobrar as importações, principalmente dos Estados Unidos, que deverão chegar a 600 milhões de litros.
 

Quebra de safra por conta do clima é a explicação oficial para esta tendência. Na realidade, considerado o potencial do setor, o mais completo absurdo, além de evidência de falta de planejamento. O país que se imaginava capaz de abastecer o mundo e de oferecer uma alternativa viável e renovável aos combustíveis fósseis caminha na direção contrária, enquanto usinas são fechadas e o plantio é reduzido. Mais que lamentar, é preciso trabalhar para reverter esta situação