Um poço sem fundo – Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY parece um poço sem fundo. A cada nova semana atingimos níveis mais baixos. Esta seguiu a rotina e fechou a sexta-feira a 14.98 centavos de dólar por libra-peso uma queda de quase quatro dólares por tonelada na semana. Todos os meses de vencimento, que se estendem até outubro de 2017, fecharam com variações negativas entre 2 e 23 pontos, ou entre 0.50 e 5.00 dólares por tonelada. Onde estará o chão desse mercado? Um analista técnico do mercado acha que o mercado pode cair até 14.50 centavos de dólar por libra-peso. Estamos perto do fundo? Ninguém sabe.
O cenário macro é cada vez mais intimidante. Usando uma frase inspirada em matéria da revista The Economist desta semana, o movimento de baixa do petróleo provocado pelos sauditas “fará com as finanças das empresas de xisto o que a perfuração faz com as rochas”. Nos anos 1980, quando a Arábia Saudita cortara a produção de petróleo em 75% e os preços subiram, seguiram-se um explosivo crescimento nos investimentos e na produção que beneficiaram os recém-chegados ao clube. Agora a tática saudita parece ser a de ver quem tem garrafa vazia para vender. Ou seja, vão deixar o preço derreter até um nível que impossibilite novos investimentos e produção e deixar fora de combate países que não contam com a simpatia (para dizer o menos) dos sauditas: Rússia e Irã. Em tempo: o custo de produção da Arábia Saudita é menor do que 6 dólares por barril. O pré-sal brasileiro custa pelo menos 65 dólares por barril.
Enquanto isso, o setor sucroalcooleiro padece. A preços correntes do fechamento de sexta-feira e assumindo que o ano que vem haja um crescimento de 2% no volume de cana, se mantido o mesmo mix de produção desta safra, a receita estimada do setor (Brasil) é de R$ 73.4 bilhões. Hoje a dívida é estimada em R$ 71.7 bilhões. Como fechar essa conta? Não tem como seguir adiante sem uma completa reestruturação da dívida do setor.
Um executivo ligado ao setor sugere, numa seleta roda de ouvintes, que se acione o Governo Federal na justiça pelas perdas incorridas com o congelamento do preço da gasolina. Faz sentido? Segundo ele há o precedente da Varig que ganhou na justiça créditos a que tinha direito por perdas provocadas pela política de congelamento de tarifas no Plano Cruzado (outubro/1985 a janeiro/1992). O Governo Federal recorreu.
Além de tudo, cada vez é maior o buraco do escândalo que envergonha a todos os brasileiros honestos com essa bandidagem que tomou conta do país. A cleptocracia brasileira que dominou a Petrobras arrasta também o setor sucroalcooleiro que paga indiretamente parcela considerável pelos mandos e desmandos da súcia que invadiu a empresa.
Em quatro anos de governo Dilma o dólar foi de 1.6510 para 2.6510 enquanto as ações da Petrobras derreteram de R$ 27 para R$ 10, uma queda de 63% em reais e de 77% em dólares. Isso apenas com Dilma e sua imbatível capacidade de incorporar o Rei Midas ao contrário. Enquanto Midas, personagem da mitologia grega, tudo que tocava virava ouro, Dilma, que infelizmente não é mitológica, tudo que toca vira outra coisa.
Um dado interessante da Transparência Internacional é que os maiores cleptócratas da história são, pela ordem, Suharto da Indonésia, com US$ 35 bilhões, Marcos das Filipinas com US$ 10 bilhões, Mobutu do Zaire com US$ 5 bilhões, Abacha da Nigéria com US$ 5 bilhões e Milosevic da Sérvia com US$ 1 bilhão. O Brasil terá lugar de destaque. Pelo menos medalha de prata.
A UNICA divulgou o número de moagem da segunda quinzena de novembro. Chegou-se ao total de 554.1 milhões de toneladas. Nas últimas seis safras, o total de moagem até o final do mês de novembro variou entre 92.15% e 98.95%. Se tirarmos os dois extremos, a média foi de 95.52% (com os extremos seria 95.53%). Ou seja, em tese poderíamos chegar nas 580 milhões de toneladas. A produção de açúcar atingiu 31.5 milhões de toneladas e a de etanol 25.2 bilhões de litros. Com o mesmo critério aplicado, chegaríamos em 32.5 milhões de toneladas e 26.5 bilhões de litros. Não muda muito na atual conjuntura já que os preços estão bastante deprimidos.
Arnaldo Luiz Corrêa é presidente da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.