Um pouco mais do mesmo para variar - Por Arnaldo Luiz Côrrea

Um pouco mais do mesmo para variar - Por Arnaldo Luiz Côrrea

O mercado de açúcar em NY continua de lado, oscilando de maneira intensa como prevíramos no último comentário semanal, que 2017 será efetivamente um ano recheado de volatilidade. Não é um mercado para aqueles de coração fraco. Os fundamentos continuam os mesmos e os futuros oscilam ao sabor das rolagens dos fundos ou de qualquer notícia que apareça. Os números de previsão da produção de cana no Centro-Sul, divulgados por várias consultorias, são uma prova eloquente de como existem visões completamente diferentes sobre o quanto será produzido na safra que vai começar logo.

A Archer Consulting divulgou na semana passada a primeira estimativa de produção da safra 2017/2018 do Centro-Sul: 586 milhões de toneladas de cana, sendo uma produção de 35,428 milhões de toneladas de açúcar e 24,546 bilhões de litros de etanol, dos quais 10,771 bilhões de litros de litros de anidro e 13,774 milhões de litros de hidratado. Estimamos que o mix de produção será de 47% para açúcar e 53% para o etanol. Os números com os quais o mercado trabalha vão de 567 a 616 milhões de toneladas de cana. Se isso ocorre aqui, caro leitor, você ainda acredita nas previsões vindo da Índia? Pois é. Haja volatilidade.

Nos últimos cinco dias, o mercado variou mais de 100 pontos (máxima de 21.22, mínima de 20.13). O fechamento de sexta-feira, no vencimento março, foi de 21.11 centavos de dólar por libra-peso, uma variação positiva de 80 pontos, ou cerca de 18 dólares por tonelada. O mercado tem tentado quebrar a resistência de 21 centavos de dólar por libra-peso e finalmente conseguiu? Um alívio para os altistas - temporário, é verdade - que vai depender da reação dos baixistas na próxima semana. Como ninguém tem bola de cristal, é preferível não perder nenhuma oportunidade de fixação de venda.

Independentemente de para onde possa ir o futuro de açúcar em NY, acreditamos que será extremamente difícil, analisando os fundamentos do mercado neste momento, que os preços possam igualar os níveis altos alcançados no último trimestre de 2016. De lá para cá, o fato é que os preços em reais caíram próximo de 300 reais por tonelada em apenas quatro meses. Temos incentivado nossos clientes a fixarem seus preços ao longo da curva sempre que os valores convertidos estejam acima de 1,500 reais por tonelada. Nossa estimativa de preço médio para a safra 2017/2018, é de R$ 1,480 por tonelada, considerando NDF e incluindo prêmio de polarização que, diga-se de passagem, continua sendo bastante remunerador.

O dólar mais fraco em relação ao real e o mercado de petróleo com dificuldades de passar de 55 dólares por barril, vai ser difícil que tenhamos uma melhora na arbitragem entre o etanol e o açúcar. Enquanto isso, no mercado interno, o hidratado é negociado com um desconto ao redor de 350 pontos comparativamente ao açúcar VHP. O anidro, pouca coisa melhor, uns 30-40 pontos.

Um ponto que merece ser observado é que existe um sentimento de que o início da safra 2017/2018 vai sofrer atraso, o que está de certa forma refletido no spread maio/julho embora o prêmio hoje seja menor.
O comentário dessa semana está um pouco mais curto porque nesse momento estou embarcando para NY onde ficarei a semana que vem participando de um curso de gestão de risco ministrado pelo honorável Professor Nassim Nicholas Taleb, autor do livro "O Cisne Negro". Nosso compromisso de continuar disseminando o conhecimento sobre derivativos é a força motriz para esse aperfeiçoamento.

É com imenso pesar que soubemos do falecimento do Dr. José Luiz Zillo, empresário do setor e uma das lideranças mais destacadas que muito contribuiu para o crescimento da indústria sucroalcooleira. Tive o prazer em trabalhar na Copersucar no período em que ele era muito atuante. O setor perde uma referência de sua história.

Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting