É impressionante como o Brasil é vulnerável nas questões ligadas à energia e à mobilidade geral. É incrível como alguns poucos sindicatos e grandes operadoras de logística desestabilizaram um país todo. O Brasil é todo rodoviário e quase tudo é transportado sobre pneus. Lembram-se, caros leitores, dos movimentos de rua de junho de 2013, começaram com um aumento de R$0,15 na passagem dos ônibus e culminou com o impeachment da Dilma? E agora o estopim dos protestos iniciou-se por causa da falta de sensibilidade de um governo lento nas decisões, fraco em negociações e desconectado dos problemas que afetam a população. É impressionante como o governo não percebeu que os seguidos aumentos nos preços dos combustíveis poderiam gerar tanto desequilíbrio. Qualquer cidadão comum poderia ter dado a dica ao alienado governo, estava na cara que ia dar no que deu. Embora pareça coerente, a política de ajustes praticamente diários nos preços dos combustíveis relacionados com os preços internacionais do petróleo e a variação do dólar, não poderiam ser aplicados sem inteligência e moderação para não causar sérios reflexos sobre toda a sociedade produtiva e afetar todos os setores da economia. Os camioneiros que o digam, quando acertam um valor de frete, consideram um valor do diesel e quando seguem viagem, descobrem que o preço aumentou no dia seguinte e o seu lucro sumiu. Após 11,3% de aumentos consecutivos no preço do diesel em menos de vinte dias, fez a crise explodir sobre os camioneiros e transportadoras, além do que já estava prejudicando todas as cadeias produtivas com oneração de custos, onde certamente o óleo é o principal insumo.
A paralização da classe e os bloqueios nas estradas foi muito vigorosa e logo atraíram vários outros setores da economia, além de receber o apoio da população e de muitos incautos e revoltados cidadãos, camioneiros ou não, que, inconsequentemente, apoiaram e engrossaram os movimentos em todo país.
O Brasil tem um dos combustíveis mais caros do mundo, carregados de impostos e monopólios, onde todos os “players” deste negócio tiram sua casquinha. Ao contrário dos produtores de etanol hidratado, por exemplo, que recebem apenas R$1,62 por litro, contra um custo de produção de R$1,54 por litro, entretanto, este combustível chega ao consumidor a R$3,00. Isto é típico num país como o nosso. Com a gasolina acontece quase a mesma coisa, custa R$1,90 nas refinarias e nos postos de abastecimento e é vendida ao consumidor por R$4,20 por litro. Por isso temos o combustível mais caro do mundo.
O que é um inaceitável é a importação de combustíveis: em 2017, o Brasil importou 4,5 bilhões de litros de gasolina e 1,4 bilhões de litros de etanol, e o pior, importou mais de 13 bilhões de litros de óleo diesel. Não temos capacidade de refino e também não priorizamos o etanol que poderia pelo menos evitar as importações de gasolina e do próprio etanol. Todos os governos pós revolução de 64, jamais se interessaram pelo combustível genuinamente brasileiro, limpo, renovável e gerador de empregos. Temos uma Agencia Nacional do Petróleo a ANP, que não serve para nada, não controla o consumo, não pode interferir nas ações da Petrobrás e nem nas importações, não dita normas para estabilização do fornecimento e nem se anima em fazer um plano diretor de longo prazo para o país, pelo contrário, só cria regras burocráticas para dificultar a vida dos produtores de etanol e biodiesel. Durante o congelamento dos preços pelo governo Dilma, jamais se manifestou. Agora estão aproveitando a confusão para prejudicar ainda mais o etanol, desobrigando à mistura de 27%. Coitado do etanol, está ferrado. Mais desestabilização na política de combustíveis vem aí.
A greve de camioneiros vai trazer consequências nefastas para o governo, que terá que bancar mais de 13 bilhões de reais em subsídios concedidos e também deixará de arrecadar impostos das áreas produtivas que paralisaram suas atividades. As perdas para o país podem atingir mais de 100 bilhões de reais e vai aumentar o déficit público. Este movimento de protesto grevista vai segurar a recuperação da economia e o desequilíbrio causado às cadeias produtivas, vai demorar a se normalizar. Vem aí uma alta na inflação, redução no crescimento e enorme espaço para o crescimento da retrógrada esquerda comunista, que vai se aproveitar destes acontecimentos para criticar a livre economia de mercado. O desconforto e os problemas causados à população, empresários, comercio e indústria vai favorecer aos candidatos demagogos nas eleições deste ano. Vai aumentar o voto de protesto.
Tudo isso começou lá atrás, quando o PT resolveu combater a inflação com represamento dos preços dos combustíveis. Isto durou cinco longos anos e não trouxe nenhum resultado senão a quebra do setor sucroalcooleiro e um brutal rombo na Petrobrás, que agora está querendo aproveitar a inflação baixa, para adotar uma política agressiva de recuperação das finanças da empresa nas costas do consumidor. Isto sem falar na mega corrupção que desviou bilhões de seu caixa. Quebraram a Petrobrás e estão socializando os prejuízos. Uma vergonha! O PT armou uma bomba de efeito retardado que está explodindo agora. Mais um problema para reforçar a crise que afeta o atual governo e é claro, a todos nós brasileiros.