Fontes conceituadas têm divulgado que o endividamento do setor sucroenergético é superior a R$ 90 bilhões. Para uma estimativa de produção de cana-de-açúcar comercial de 575.000 milhões de toneladas para a atual safra, resulta num passivo de R$ 160,00 TC.
Com os preços médios atuais, dos seus principais produtos, calcula-se que a tonelada de cana industrial possa gerar, na média, o faturamento de R$ 175,00 TC. Pois bem, a partir dessas ordens de grandeza foi possível construir o quadro abaixo, onde se mostra o alongamento da dívida do setor, mantidas as métricas adotadas de juros de 7,5 % aa, lucro líquido de 10% e reserva para investimentos de 20% sobre o referido lucro.
Considerando que dívidas somente são pagas com resultados (lucros), seriam necessários 30 anos de duro trabalho para o serviço da dívida, isto é, saldar o endividamento atual, sem nenhum contratempo. Logo, quem vai pagar tal conta será a geração futura.
É importante destacar que tal previsão é válida para a média do setor, mas, tendo em vista que muitas unidades, ou grupos, estão acima dessas cifras, modula-se que a conta desses é impagável, pelo menos com os esforços de resultados operacionais.
A solução mais provável encontra-se na ciência e tecnologia. Pesquisadores se empenham em encontrar soluções de produtividade capazes de melhorar a produção dos canaviais, como o anuncio de variedade de cana com alta produção de biomassa – 300 toneladas por hectare. Infelizmente, esse caminho também não será o remédio, pois que os principais custos não serão resolvidos, como CET – Corte, Embarque e Transporte. Como não haverá ganhos industriais.
A tabela abaixo mostra a produtividade incremental para produção de 250 TCH, mantendo-se a riqueza atual, e uma alternativa de produção de biomassa de 100 TCH com maior teor de sacarose, saindo do atual ATR para alcançar 225 kg/TC.
Na nossa concepção, o incremento no teor de sacarose deveria ser a busca incessante da ciência, porque isso exige igualmente menores investimentos em formação de lavouras, reduz drasticamente os custos de CET e alavanca a produção industrial com os mesmos ativos.
Torna-se uma agricultura altamente sustentável, pois diminui os espaços necessários para a produção, ou aumenta consideravelmente a produção nos mesmos espaços. Só para ilustrar, uma indústria com processamento de um milhão de toneladas de cana com ART total de 248,62 kg/TC (mostrado no quadro acima), comparativamente ao estágio atual, para manter a mesma produção industrial final, necessita esmagar 65% a mais.
Imaginemos quanto melhor não será a eficiência do maquinário e espaço agrícola.
O problema do endividamento do setor sucroenergético, pelo lado da redução de custos e injeção de capital não deu resultado, embora é de se reconhecer o esforço temporal na alavancagem da produção global, mas, desta vez, serão convocados cientistas e técnicos para a sua resolução. É melhor já ir reservando uma parcela de dinheiro para financiar a salvação.
Com os novos recursos tecnológicos chegaremos lá.
Claudio Belodi é diretor da CEPAL Tecnologias e Arquitetura Ambiental.