Composto por potássio, silício, cálcio e magnésio, pode substituir o NPK, conjunto de nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas
Uma alternativa para a crise no fornecimento de fertilizantes pode ser o uso de remineralizadores.
O remineralizador, ou “pó de rocha”, como é conhecido, é um resultado da moagem de rochas, entre elas basálticas, micaxisto e sienitos.
A moagem fina faz com que o produto seja adicionado ao solo e aumente a atividade biológica.
O fornecimento de fertilizantes para a agricultura brasileira foi agravado com a guerra entre Ucrânia e Rússia. De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), 85% desses insumos vêm de outros países. No ano de 2021, o Brasil importou da Rússia 23% desses adubos químicos.
O chefe geral da Embrapa Cerrados (DF), Sebastião Pedro da Silva Neto, explica que são insumos que fazem com que ocorra uma maior disponibilização de nutrientes para as plantas, sendo utilizados inclusive para repor alguns macro e micronutrientes.
“A partir de rochas nós conseguimos suprir parte da necessidade nutricional das plantas através de um processo totalmente sustentável onde aumentamos as atividades do solo”, diz.
O pó de rocha é composto por potássio, silício, cálcio e magnésio, podendo substituir o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), conjunto de nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas.
O produtor de soja e milho e presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas), Rogerio Vian, utiliza o produto há nove anos. Ele conta que alimentos produzidos com essa tecnologia têm maior valor nutricional.
“A maioria dos remineralizadores tem mais de 60 minerais, quase uma tabela periódica toda. Então, quando você aplica acaba colocando mais minerais no solo que vão para os alimentos”, afirma.
A atividade é regularizada por lei.
Em 2016 houve a publicação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) das Instruções Normativas IN 05 e 06 de 10 de março de 2016, que normatizaram o registro de uso e a comercialização dos remineralizadores.
O produto já consta no Plano Nacional de Fertilizantes, que é o planejamento do setor de fertilizantes para os próximos 28 anos (até 2050), promovendo o desenvolvimento do agronegócio nacional.
Vantagens e desvantagens do pó de rocha
Uma das vantagens é a alta sustentabilidade do produto. O uso não faz mal para o meio ambiente.
Para as mineradoras fazerem a comercialização é preciso que ele esteja registrado no Mapa.
Para que esse registro ocorra, os remineralizadores não podem conter nenhum metal pesado. Além disso, é capaz de potencializar a fixação do carbono no solo.
“Essa atividade sequestra carbono do meio ambiente, ou seja, ela mitiga gases do efeito estufa, o que é muito importante”, explica Sebastião Pedro da Silva Neto.
Já as limitações estão relacionadas à alta quantidade de produtos para começar a aplicação nas lavouras. É preciso no mínimo três toneladas por hectare.
Outro empecilho é a disponibilidade: ainda são poucas mineradoras para a demanda. De acordo com Silva Neto, a logística também é um problema, já que alguns estados ainda não possuem mineradoras e isso pode aumentar o custo de produção ao trazer o produto para outra região.
Financiamento
A pesquisa dos remineralizadores não é nova, mas a sua utilização ainda está sendo colocada em prática no país. Segundo o presidente do Gass, o que mais dificulta que produtores utilizem o pó de rocha é a falta de crédito para financiamento da aplicação.
“Hoje ainda não tem financiamento próprio para esse sistema. Então, você acaba tendo que pagar a vista, tanto o frete como o produto. Se lançasse uma linha de crédito para que o produtor possa financiar essa primeira compra, principalmente a primeira, já que o produto precisa de uma quantidade maior por hectare. Se isso entrar em uma linha de financiamento com o juro mais em conta, o produtor entra muito fácil nesse sistema”, concluiu.
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