Apoiada nos compromissos com a prática ESG, montadora utilizará metade do gás produzido pela Raízen em Piracicaba a partir de resíduos de cana
Há quatro meses, a Volkswagen fechou acordo com o Bradesco para uma dívida bancária atrelada a compromissos com a prática ESG (ambiental, social e de governança corporativa, na sigla em inglês), que envolvem a redução de emissões de CO2 de origem fóssil na operação industrial. Há poucas semanas, Há poucas semanas, a Raízen anunciou a construção de uma nova fábrica de biogás em Piracicaba (SP). Dessa unidade sairá o biometano que a Volks se compromete a adquirir para começar a substituir o gás de origem fóssil em duas fábricas no Estado de São Paulo - Taubaté e São Bernardo do Campo.
A prática ESG tem mudado as relações entre empresas. Ao mesmo tempo em que aproxima setores que antes não tinham interesses em comum provoca novas discussões entre empresas que já tinham vínculos. Os compromissos assumidos por duas empresas - Volkswagen e Yara, uma das maiores fabricantes de fertilizantes do mundo - para o uso de energias renováveis sustentarão a fase inicial da operação da nova fábrica da Raízen. Volks e Yara ficarão, cada uma, com metade da produção de biometano em Piracicaba, prevista para começar em 2023.
No caso da Volks, segundo a empresa, o uso do biometano reduzirá em mais de 90% as emissões de dióxido de carbono em relação ao gás natural. As fábricas de Taubaté e São Bernardo utilizarão, juntas, mais de 50 mil metros cúbicos de biometano por dia, a partir de 2023 e 2024, respectivamente. Com isso, ambas deixarão de emitir cerca de 19 mil toneladas de CO2 de origem fóssil por ano.
O presidente da Volks na América Latina, Pablo Di Si, lembra que principalmente a área de pintura dos carros opera com gás. Segundo a Volks, o mesmo duto usado pela Comgás hoje para levar o gás natural até essas instalações será usado para o transporte do biometano, que, no caso da Raízen, será produzido a partir de resíduos agrícolas, num parque industrial onde a companhia já tem uma usina de etanol.
Di Si diz estar fascinado com o que tem aprendido sobre o etanol desde que começou a pesquisar melhor a respeito desse combustível, há três anos. “Antes eu só sabia que servia para colocar no tanque do carro”, afirma.
No caso do biometano adquirido pela Volks, a primeira montadora a anunciar o uso desse gás, a extração será a partir da vinhaça, resíduo obtido depois da destilação do caldo de cana, e da chamada torta de filtro, composto orgânico que sai da filtração do caldo.
“Há uns 20 anos o bagaço do etanol era desperdiçado”, afirma Di Si, cujo interesse no etanol não está apenas no gás que seus resíduos podem produzir. O executivo é um dos líderes do movimento que pretende fazer do Brasil um centro de desenvolvimento de veículos híbridos movidos a etanol.
Para ele, a especialidade no derivado da cana poderá conduzir o Brasil a posições de destaque num momento em que países desenvolvidos se concentram nos carros 100% elétricos. “Imagine o impacto positivo disso na cadeia produtiva e nos empregos do país”.
O projeto da Volks para usar o biometano começa pelas fábricas de São Paulo em razão da estrutura planejada pela Raízen e Comgás. Mas, segundo Di Si, a montadora já estuda um plano para a fábrica de São José dos Pinhais (PR). “Temos metas para descarbonização; isso requer projetos”, diz.
A Volks anunciou o compromisso de, até 2024, transferir 12% das emissões de CO2 de origem fóssil para biogênica, e elevar a participação de biometano para 20% no total de gás consumido nas fábricas da região. No mundo, o grupo anunciou o plano de zerar a emissão de carbono em suas operações até 2050.
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